Baseado no musical de mesmo nome, “In the Heights” foi um dos grandes sucessos que marcaram a Broadway. Mais de 10 anos após seu lançamento, o diretor Jon M. Chu assume a direção do longa após o divertido “Podres de Rico”, seu sucesso lançado em 2018. Aqui, acompanhamos a trajetória de Usnavi (Anthony Ramos), que sonha em voltar para a sua terra natal. Ao longo da duração, conhecemos os desejos de um grupo de pessoas que vivem no bairro de Washington Heights e os empecilhos de realizá-los sendo latino imigrante nos EUA.
Escolher um bom protagonista é dever de qualquer produção. Criar empatia pelos sonhos daquele que lhe guiará até o fim da narrativa é uma tarefa importante em um filme como esse, e o carismático Usnavi carrega uma energia alegre e otimista na medida certa. Ele cumpriu não apenas o seu trabalho, como fez personagens ora apagados (como exemplo, a personagem de Melissa Barrera) serem mantidos na memória de quem assiste, afinal, o forte apego por ele faz o público temer pelo destino de seus amigos e familiares. Cada personagem tem uma personalidade bem própria, e apesar do grande número de histórias num período curto de tempo, todos tem seu momento de brilhar.
Os números musicais inventivos apresentam a personalidade da produção logo de cara. Quando o primeiro está próximo ao fim e Usnavi observa pelo vidro de sua bodega, os poucos segundos ali são suficientes para anunciar algo grande, além de aguçar a curiosidade a respeito dos personagens ali apresentados. Não é tão difícil escolher uma performance preferida, já que duas delas são uma das coisas mais lindas vistas em musicais dos últimos anos, talvez até da história. Mas mesmo com a especialidade de ambas, além delas, somos presenteados com uma sequência linda após outra, sem abrir frestas para momentos entediantes, fazendo com que sua duração de quase 140 minutos passe num piscar de olhos. Parte do encanto dentro de tanta extravagância musical estão nas cores, que casam perfeitamente com o otimismo que o filme propõe. Nem sempre parece estar ali com um propósito, mas acredite, está.
Longe de ser apenas sobre números musicais ou cores, o filme aprofunda bem em críticas sociais pertinentes para o caminho em que ele decide trilhar, fazendo com que boa parte dos personagens tenham seus sonhos e problemas narrados de forma sensível no ponto certo. A naturalidade e o cuidado tomados ao mexer em tópicos importantes não diminui a leveza que o filme quer transmitir. Toda a crítica está ali, às vezes de forma pequena, como o descaso com a falta de luz do bairro, outra de forma mais escancarada, como a denúncia de racismo sofrida pela personagem Nina (Leslie Grace).
Quando estamos prestes a finalizar a jornada, percebemos que o filme é sobre aceitar as mudanças que podem ocorrer ao longo da vida. Mesmo que as coisas não aconteçam da forma que idealizamos, nossos desejos mudam, muitas vezes se tornando algo bem maior e mais forte do que esperávamos. Determinação é o que molda a trajetória desses personagens. Além de todas as críticas abordadas, o filme mostra que lutar pelo que queremos é a única maneira de descobrir que talvez não queiramos tanto aquilo.
É interessante pensarmos que a produção foi adiada e acabou chegando no timing perfeito. Depois da longa pandemia da COVID-19, quando finalmente conseguimos enxergar um pingo de esperança com a chegada das vacinas, “In the Heights” vem com uma mensagem otimista sobre acreditar que mesmo com dificuldades, tudo pode acabar bem. Impossível não relacionar com o papel dos musicais após a crise econômica de 1929. Num momento onde a humanidade se vê tão descrente e procura constantemente uma forma de escape, esse tipo de entretenimento é uma ótima maneira de consegui-la. Apesar da resistência que o público mantém contra musicais, esse é um ótimo momento para tentar conhecê-los a partir de “In the Heights”, que aquecerá seu coração e ficará na sua memória por um bom tempo.