Em “Armugán”, acompanhamos Armugán (Íñigo Martínez) sendo carregado por Ánchel (Gonzalo Cunill), um fiel companheiro que o ajuda a se locomover. Com poucos detalhes sobre a vida dos protagonistas, Jo Sol, responsável pelo roteiro e direção, exibe de forma controlada as intimidades dos personagens e introduz o público àquele cotidiano. Não sabemos aonde a história quer nos levar, até que somos introduzidos aos dons do personagem que carrega o nome do título. Conforme os minutos se passam, os detalhes chamam atenção e a vontade de compreender o que se passa acaba sendo despertada.
Uma das características mais marcantes da obra está no forte elo entre os protagonistas que mesmo perante ao silêncio, impõem-se pelos olhares e atitudes. A prosa só costuma acontecer quando Sol encontra a harmonia entre a filosofia de vida e os princípios dos personagens, dialogando apenas quando há uma necessidade de verbalizar seus sentimentos. Em sua constância, observa-se a calma em apresentar seus elementos e em fortalecer seus vínculos com quem o assiste. Há momentos onde a câmera estática está ali apenas para imergir na relação entre eles, com o bônus de uma bela fotografia que equilibra a suavidade de comportamentos cotidianos junto às paisagens surpreendentes dos Pirineus Aragoneses.
Mesmo atraído pela ideia, a primeira metade não soa tão atrativa. Por mais que o primor visual e os diálogos chamem a atenção, isso não é suficiente para se manter dentro da proposta. O interesse demora a despertar, mas quando a semente da curiosidade é plantada, é difícil não ansiar pelos próximos acontecimentos. A sensibilidade aumenta repentinamente, fazendo com que um único segundo seja suficiente para apertar o coração e fazer com que solidarização do espectador seja pescada. Entramos em um túnel fúnebre, onde os valores dos protagonistas são colocados em pauta.
Com a divergência entre crenças e a dificuldade em estabelecer o certo ou o errado, os protagonistas sofrem com a indecisão e questionam suas próprias visões sobre qual caminho traçar. Enquanto um acredita que a vida é uma dádiva, independente da maneira que a levamos, o outro não se sente confortável com a ideia de idolatrar algo sem expectativa. Mesmo que a visão de ambos seja bem estabelecida em seus íntimos, a dúvida cresce junto ao sofrimento e o medo de estar agindo da maneira errada. É possível relacioná-lo também aos pesares das crenças, onde as carregamos e as cultivamos com rigor, até o momento onde a consciência humanizada acaba falando mais alto que a fé. Esses conflitos são arrastados até os momentos finais, onde diálogos fortes tomam conta, abrindo uma série de dúvidas quanto ao sentido da vida e da morte.
Com tantas discussões relevantes dentro de uma produção que tenta a todo momento se manter irretocável – e consegue em sua grande maioria -, espera-se um resultado completo, que honre os dilemas retratados. Contudo, a falta de ritmo prejudica seu propósito e desanima seu espectador, alongando tópicos pouco pertinentes e tirando a atenção dos mais relevantes. O formato contido funciona em boa parte do tempo, mas quando a história precisa de um grito, ela acaba se estagnando. São ideias que funcionam no papel, mas que precisam de um fôlego maior para cativar nas telas. Mas esses pequenos problemas não são suficientes para desqualificar a relevância dos assuntos retratados, mesmo com a ciência de que eles poderiam ser melhor aprofundados.
É filmado de maneira simples, mas que propõe uma conversa complexa sobre as incoerências da vida. Enquanto eficientes, todas as filosofias e deslumbres visuais que acrescentam a essa conversa nutrem a experiência, mas alguns deslizes acabam o afastando da perfeição.