“Qual é o seu prazer, senhor?”
É com essa frase que o primeiro- e mais popular- filme da franquia de terror “Hellraiser” se inicia. Baseado no livro do britânico Clive Barker, o longa se tornou um dos clássicos cults mais ousados da década de 80, mesmo que suas oito sequências – incluindo uma com Henry Cavill em início de carreira – tenham tentado com fervor afastar qualquer fã da franquia.
Barker, hoje um conceituado escritor de terror, diz se inspirar em algumas experiências pessoais como inspiração para a obra, já que trabalhou como Garoto de Programa em períodos em que sua carreira de escritor se mostrava em crise. Como um homossexual em plena década de 80- um momento…infeliz para a comunidade LGBT+ – Clive procurava criticar o moralismo e repressão sexual que foi instaurado tanto na américa de Ronald Reagan quanto no Reino Unido de Margaret Thatcher .
Com o reboot distribuído pela Hulu apresentando essa mitologia macabra a uma nova geração, a chance de revisitar esse clássico não pode ser perdida. Dirigido pelo próprio Barker, “Hellraiser” levanta um questionamento: o quão longe você iria por prazer?
Frank Cotton, um hedonista que já experimentou de tudo, resolve um cubo-mágico profano e invoca Cenobitas, criaturas de uma dimensão sadomasoquista que não diferenciam dor de prazer e se alimentam de luxuria e sofrimento. Após escapar desse mundo, a aberração que uma vez foi Cotton procura escapar das garras – ou melhor, ganchos – dos cenobitas, com a ajuda de sua amante.
Paralelo a isso, a sobrinha de Frank se vê na posse do cubo, também conhecido como O Lamento da configuração, colocando a alma em risco e de direto confronto a Pinhead e seu culto.
O filme é intenso, para dizer o mínimo e não é uma experiência agradável para iniciantes no mundo do terror. A caracterização de todos os cenobitas, especialmente Pinhead, é repulsiva e se agarra a estética BDSM – da qual Barker era entusiasta. Mas em uma época de vilões mascarados silenciosos e maníacos com lâminas, a visão de mundo neutra destes vilões vestidos de couro pegou muitos de surpresa, com uma ideia experimental no terror oitentista.
Além do mais, a mitologia criada ao redor dessas criaturas asquerosas, antes humanos procurando por prazeres carnais é repulsiva, trágica e fascinante… tudo ao mesmo tempo.
Com direito a mais três continuações lançados para Cinema, e cinco lançadas direto para DVD, os filmes de “Hellraiser” foram decaindo de qualidade com o passar das décadas, transformando os respeitáveis antagonistas em vilões genéricos. Doug Bradley, que deu vida a Pinhead no filme original, reprisou seu papel na maior parte das continuações.
Trinta e cinco anos separam o filme original de seu reboot, mas nessas décadas a influência desses personagens na cultura pop se manteve forte. Pinhead é considerado um dos vilões mais tenebrosos da história do Cinema e , além de extremamente reconhecível, serve de inspiração para inúmeros artistas, Drag Queens e novos ícones do terror. Pela homossexualidade escancarada do autor, inspiração baseada no BDSM e mostrando as consequências do hedonismo exagerado, Pinhead e demais cenobitas são vistos como ícones queers
A nova versão de Hellraiser repagina a franquia, trazendo de volta uma atmosfera tenebrosa. Os novos Cenobitas não baseiam seu culto somente a luxúria, mas a todo tipo de abuso e vício conhecido pelo homem. Com Jamie Clayton dando vida a Pinhead, essa história brutal devolve Hellraiser ao seu peso e significado original, sempre abordando o seguinte questionamento
“Qual é o seu prazer?”