Quando uma mulher, independente de sua idade, assume um cargo político, uma comoção geralmente cerca a situação: Kamala Harris se tornou a primeira mulher a ocupar a vice-presidência dos EUA e a notícia ofuscou o anúncio da ascensão de Biden; a eleição de Dilma Rousseff como a primeira Presidente mulher do Brasil foi considerada histórica por muitos.

O Reino Unido passou pelo mesmo momento, mas com décadas de antecedência. O momento histórico que o Brasil teve em 2010, ocorreu lá em 1979, com a eleição de Margaret Thatcher ao cargo de Premiê, a oitava do reinado de Elizabeth II. A política do Partido Conservador, junto com a do então presidente americano Ronald Reagan, moldou a política neoliberal como conhecemos e inúmeros ideais dos anos 80 tiveram a influência da ‘Dama de Ferro’.

Como todo político que se preze, Thatcher, uma mulher constantemente descrita como ‘desagradável’ , foi uma figura extremamente controversa durante e após o seu governo, o mais duradouro do século XX. Muitos a adoravam e a colocavam em um patamar semelhante ao da Rainha; outros desprezavam a simples menção de seu nome. Quando a Baronesa, após anos de alegações de demência, morreu em 2013, grande parcela da população londrina participou de comemorações ao som de ‘The Witch is Dead’ de ‘O Mágico de Oz’ lotaram Londres no dia da morte e nas semanas que se seguiram.

Dez anos depois de sua morte, Margaret Thatcher continua sendo uma figura constantemente revisitada, seja por seu valor histórico ou por sua estética chamativa. Hoje, pretendo explorar as três representações mais populares da ‘Dama de Ferro’

1-Spitting Image 

O programa satírico usava de marionetes caricatas para fazer críticas à Thatcher, ridicularizar a Família Real e debochar de celebridades populares na época.

Toda e qualquer aparição de Margaret na série, exceto os encontros com Reagan, a colocavam como uma tirana megalomaníaca e sua feminilidade era completamente apagada. Seu gabinete, majoritariamente masculino, era composto de figuras covardes e frágeis, enquanto a Dama de Ferro era colocada como uma general que liderava o Reino Unido em uma raiva cega da classe trabalhadora

Os atributos físicos de Thatcher, como o nariz pontudo, a voz rouca e o cabelo bufante foram aumentados e amplamente ridicularizados

No revival, que cobriu o controverso mandato de Boris Johnson, Thatcher é mencionada inúmeras vezes, muitas delas descrita como uma bruxa e uma figura que precisava ser temida.

2- The Iron Lady

O filme de 2011, apresenta os anos finais de Thatcher, interpretada por Meryl Streep. Em contraste com seus grandes atos ao longo dos seus quatro mandatos, durante o longa, vemos a senilidade de Thatcher tomando forma.

Os momentos históricos da era de ouro da britânica são colocados em paralelo ao visual decadente de seus anos finais. Retratando Margaret como uma política difícil e uma idosa desagradável, Meryl Streep levou seu segundo Oscar de Melhor Atriz pela interpretação da figura histórica.

O filme hoje em dia é bastante criticado. Muitos acreditam que os momentos menos lisonjeiros da carreira política da Thatcher foram suavizados para que fosse criada uma aura de simpatia com a figura.

 

3- The Crown

No drama histórico, Thatcher é apresentada como uma mulher totalmente devotada aos seus princípios e suas visões de mundo. A Primeira Ministra da série é inflexível e, embora tenha certas liberdades criativas, representa uma versão mais condizente com a figura real do que no filme ‘A Dama de Ferro’.

Foi uma das ‘antagonistas’ da temporada e muitos de seus momentos foram ignorados em prol do drama de Charles e Diana. A ascensão e derrocada de Margaret Thatcher foram dos pilares principais do quarto arco da série da Netflix.

Gillian Anderson interpreta Thatcher e replica os mínimos detalhes da premiê: seja a forma de andar, como reverenciava a monarca em cortesias exageradas; ou em aspectos mais abstratos como a falta de empatia com a maior parte de seu gabinete e a obsessão em trazer grandeza à Grã Bretanha mais uma vez… Não importando por quem precisasse passar para isso acontecer.

Gostando ou não de Margaret Thatcher, não há como negar que sua presença na cultura popular se dá por sua influência no mundo político, para melhor ou para pior. A presença dela, de forma contínua por 11 anos e meio, abriu portas para outras mulheres ocuparem o cargo político mais disputado do Reino Unido… Só Theresa May e ,brevemente, Liz Truss conseguiram essa façanha após Thatcher

Margaret Thatcher pode até ser uma bruxa para muitos, mas não há como negar que por muito tempo, ela foi uma figura influente e poderosa no mundo.

 

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