Em 1977, Joan Crawford morreu. A atriz foi uma das Femme Fatales mais icônicas de Hollywood e levou o Oscar de Melhor atriz por “Mildred Pierce” ( recebendo-o na cama). Durante sua vida, Crawford adotou quatro crianças: Cristina, Christopher e as gêmeas Kathy e Cindy. Em seu testamento, no entanto, deixou explícita sua vontade de não deixar nada para seus dois filhos mais velhos.

No ano seguinte, Cristina escreveu “Mãezinha Querida” onde relatou os abusos físicos e mentais proporcionados pela lenda do cinema. Embora o livro tenha causado muita controvérsia, não deixou de ser um grande sucesso… Afinal, a figura de Joan Crawford, cirurgicamente moldada, estaria começando a se estilhaçar em um ato de vingança pessoal?

Como era de esperar, um filme foi encomendado antes mesmo da publicação oficial. Com Anne Bancroft escalada para interpretar Joan, as primeiras versões planejavam explorar os traumas tanto de Joan quanto os de Cristina. Bancroft deixou o projeto após diferenças criativas e Faye Dunaway tomou seu lugar, esperançosa de que receberia seu segundo Oscar honrando uma lenda do cinema.

Dunaway é conhecida como uma estrela difícil de lidar e com esse filme, não foi diferente: uma atriz de método, Faye terminou a produção extremamente abalada física e emocionalmente. A passagem de nada menos que 7 roteiristas também foi algo que abalou a pré-produção.

E quando o filme estreou…bem, as reações não foram as esperadas.

O filme quase intimista que pretendia explorar a psique de uma atriz traumatizada não estava à vista. Em seu lugar, o filme apresentava um compilado de gritos e caretas por baixo de grossas camadas de maquiagem. Se o plano inicial era representar Joan Crawford mais humana, o resultado foi exatamente o oposto, nos apresentando algo muito semelhante a uma performance de uma Drag Queen.

Ninguém estava levando o pretensioso filme sério a sério. Audiências davam gargalhadas de toda aquela situação

Após a desastrosa repercussão, a Paramount mudou completamente o marketing do filme, substituindo imagens de Faye ,caracterizada como Joan, por desenhos de cabides acompanhadas com frases que viriam a se tornar icônicas

Nascia o “Cidadão Kane do Camp”. Para quem não sabe, Camp está associado ao exagero, ao cafona, ao teatral, o ‘de tão ruim, acaba sendo bom’. Daria para escrever um artigo inteiro só do ‘Camp’ em si

Dunaway -que claramente não tem espírito esportivo- considera ‘Mommie Dearest’ um de seus maiores arrependimentos e ao invés de entrar na brincadeira e curtir com o legado do filme, prefere fingir que ele existiu

O legado de Crawford foi alterado de maneira intrínseca com o lançamento do livro e, principalmente, do filme. A versão exagerada de Dunaway serviu para ruir a percepção que o público tinha da Diva. Décadas após o lançamento do clássico Camp, a figura de Joan continua sendo associada a caricatura interpretada por Faye Dunaway

A vida de Joan Crawford e a carreira de Faye Dunaway se misturaram de uma forma que o legado das duas está interligado. Hoje em dia Crawford é associada a Dunaway, e Faye teve um papel considerável no legado da atriz clássica na memória contemporânea

 

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