No Oscar de 2023, Michelle Yeoh tornou-se a primeira mulher asiática a ganhar o prêmio de Melhor Atriz com sua cativante performance em “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”. Outras atrizes asiáticas reconhecidas pela Academia foram Miyoshi Umeki em 1957 e Youn Yuh Jung em 2020, ambas vencedoras na categoria de ‘Atriz Coadjuvante’.
A relação conturbada de Hollywood com artistas de origem asiática ocorre desde o seu início, com a sino-americana Anna May Wong sendo uma das primeiras a repudiar abertamente essa atitude.
Wong foi uma figura icônica na história do cinema, embora não tenha alcançado o estrelato como suas colegas. A atriz deixou um impacto duradouro como uma das primeiras estrelas de origem asiática em Hollywood, participando de inúmeros filmes mudos. Sua jornada diferenciada na indústria cinematográfica reflete não apenas o glamour de Hollywood, mas também os desafios enfrentados por artistas de ascendência oriental numa época em que censura e discriminação racial caminhavam lado a lado.
Nascida em Los Angeles em 1905, filha de imigrantes chineses, Anna May Wong cresceu num ambiente multicultural e percebeu desde cedo as limitações impostas pela sociedade enquanto buscava o sucesso como atriz. Sua primeira aparição nas telonas foi aos 14 anos em “The Red Lantern” (1919), marcando o início de uma carreira nada convencional.
Na década de 1920, Anna May Wong ganhou reconhecimento em papéis estereotipados conhecidos como ‘A Mulher-Dragão’, retratando mulheres esguias, sedutoras e nada confiáveis. Nessa mesma época, Wong sofreu uma das maiores decepções de sua carreira ao ser substituída por ser considerada ‘oriental demais’ no papel da chinesa O-lan em “The Good Earth”, tendo seu lugar tomado pela alemã Louise Rainer em Yellowface. Rainer viria a ganhar o Oscar de Melhor atriz pelo papel de O-lan
Apesar das inúmeras barreiras enfrentadas, Wong acumulou uma breve filmografia, contracenando com Marlene Dietrich em “Shanghai Express” (1932) após sua última performance como ‘Mulher Dragão’ em “Daughter of the Dragon” (1931).
Wong sempre foi uma ativista em prol de outros artistas asiáticos e da disseminação da cultura oriental sem apropriação indevida. Durante uma turnê à vila de seu pai na China, Anna entrou em conflito com suas origens e etnia, um ponto de virada em sua vida e carreira, segundo muitos historiadores.
Seu retorno final a Hollywood envolveu filmes de baixo orçamento e qualidade questionável, mas suas personagens desviaram dos estereótipos associados a ela. Seu método de atuação e presença cativante garantiram breves elogios a esses filmes.
Anna May Wong faleceu em 1961, aos 56 anos, de um ataque cardíaco, mas seu legado perdura, e as injustiças que sofreu são discutidas por artistas asiáticos relevantes em Hollywood. A vida de Anna May Wong é uma narrativa fascinante que ultrapassa os limites do cinema, destacando sua coragem ao desafiar estereótipos e sua dedicação ao ativismo, contribuindo para a compreensão da evolução da indústria cinematográfica e da luta por uma representação justa e inclusiva.