Em 2005, Halle Berry destacou-se como uma das poucas atrizes indicadas ao Framboesa de Ouro, uma premiação não oficial que celebra os piores filmes do ano,a comparecer à cerimônia para receber a questionável “honra”. A primeira mulher negra a conquistar o Academy Award de Melhor Atriz subiu ao palco ao lado de seu Oscar e começou a criticar o filme pelo qual foi “premiada” como ‘pior atriz’: Catwoman. Inspirado na personagem da DC Comics e lançado há duas décadas, o fracasso de bilheteria estrelado por Berry tentou revisitar as origens da Mulher-Gato, mas falhou miseravelmente no processo.
Entre o sucesso da justa Mulher Maravilha e a anárquica Arlequina, houve um período em que Selina Kyle, a vigilante felina, se destacou como a personagem feminina de quadrinhos mais cativante para a audiência, seja nos quadrinhos, na televisão ou no cinema. Presente nas páginas dos quadrinhos desde a década de 1940, a ladra figurou como uma das primeiras antagonistas do Cavaleiro das Trevas, mantendo com ele uma relação – literalmente – de “gato e rato” que perdurou por décadas. Ao contrário dos hediondos crimes perpetrados pelo vilão principal da franquia, o Coringa, os delitos de Kyle se limitam mais ao roubo de joias e atos de vingança pessoal.
O sitcom do Homem-Morcego de 1966 nos presenteou com duas interpretações da personagem. Julie Newmar personificou uma versão sagaz e destituída de bússola moral, conquistando unanimemente a audiência do programa. Quando Newmar não pôde retornar devido a conflitos de agenda, a cantora Eartha Kitt foi escalada para dar vida à personagem na última temporada da série estrelada por Adam West. Kitt, a primeira atriz afro-americana a retratar a femme fatale felina, imprimiu sua própria interpretação na personagem. Ambas as versões da anti-heroína serviram de inspiração para adaptações nos quadrinhos nas décadas subsequentes, sendo a de Kitt uma influência primordial em quadrinhos contemporâneos.
A primeira tentativa de trazer Selina Kyle para as telonas – excluindo o filme baseado na sitcom de Adam West – ocorreu em “Batman Returns” sob a direção de Tim Burton. A interpretação da personagem por Michelle Pfeiffer tornou-se uma das mais populares desde o seu lançamento, influenciando diversas outras versões. Com uma abordagem insana e sedutora, Pfeiffer conquistou o papel de forma dominante, tornando-se a favorita para um eventual retorno da personagem em um filme solo. Infelizmente, essa possibilidade não se concretizou, sendo substituída pelo desenvolvimento do filme de 2004, considerado um dos piores produzidos nos anos 2000.
Diretores como Matt Reeves e o mais recente vencedor do Oscar de Melhor Diretor, Christopher Nolan, abordaram as adaptações dos quadrinhos do Batman com uma ênfase na realidade, proporcionando interpretações mais realistas de Selina Kyle, que se tornam mais anti-heroínas do que vilãs. A abordagem minimalista e tecnológica apresentada por Anne Hathaway, bem como a visão de Zoe Kravitz como uma justiceira das classes, acrescentaram diferentes camadas à personagem, alinhando-se aos estilos distintos de seus diretores. Essas representações foram amplamente aclamadas pelas audiências.
Nos quadrinhos, a personagem passou por mudanças drásticas, recebendo origens mais sombrias e tendo seu breve passado explorado. Seu vínculo com Bruce Wayne tornou-se um dos principais focos das histórias mais recentes, com seus atos criminosos diminuindo consideravelmente, enquanto seus dilemas com o vigilante de Gotham passaram a ocupar várias páginas das criações recentes da DC. Por um breve período, Selina fez parte do grupo “Sereias de Gotham”, juntamente com Hera Venenosa e Arlequina, participando de muitas aventuras ao lado desse casal de vilãs.
Empoderada e letal, a Mulher-Gato permanece como uma das personagens mais populares da DC, mesmo após 80 anos. Com interpretações distintas, algumas bem-sucedidas e outras nem tanto, a personagem trilhou uma trajetória única, adaptando-se aos tempos e sendo explorada de diversas maneiras ao longo das décadas.