Neil Gaiman é reconhecido como um dos pioneiros da Fantasia Moderna, tanto por sua envolvimento com personagens já existentes quanto pela criação de sua própria coleção de figuras exóticas. Como criador de “Sandman” e “Deuses Americanos”, ele é conhecido por suas mitologias complexas, que têm sido exploradas em filmes e séries ao longo das décadas de maneiras diversas. Uma de suas obras notáveis é “Coraline”, que pode ser descrita como uma versão infantojuvenil dos contos de Lovecraft.
A história segue a jovem Coraline Jones, uma garota aventureira que descobre uma estranha passagem em sua nova casa. Do outro lado desta misteriosa porta, um novo mundo se revela: uma casa perfeita, vizinhos perfeitos e mimos perfeitos… todos com olhos substituídos por um par de botões pretos.
Encantada com esse mundo secreto, Coraline é confrontada pela entidade criadora daquele universo e sua autodeclarada “Outra Mãe”. Tudo o que ela sempre quis estaria à disposição, contanto que Coraline substituísse seus olhos por botões e prometesse ficar com sua família alternativa para sempre. Sua resposta desencadeia os eventos dessa história, apresentando uma narrativa repleta de suspense e sustos, mostrando que nem todos que dizem te amar desejam o seu bem.
O conto de Coraline ganhou popularidade com o lançamento de sua adaptação em stop-motion pelo estúdio Laika. Dirigido por Henry Selick, uma das mentes por trás de “O Estranho Mundo de Jack”, a animação cativou audiências de forma arrebatadora. O uso do stop-motion gravado em 3D criou uma identidade visual única, instantaneamente reconhecida em círculos culturais. Em muitos aspectos, a obra-prima técnica de “Coraline” pavimentou o caminho para os estúdios Laika alcançarem o status que têm hoje.
Tanto o livro quanto o filme trabalham cuidadosamente para criar uma atmosfera de estranheza e desconforto no Mundo Secreto. Desde as descrições iniciais vibrantes até as cores supersaturadas e enjoativas, o mundo paralelo se transforma a cada desafio à percepção de segurança de Coraline, marcando o primeiro contato de muitos com suspense e terror. O ápice do terror em “Coraline”, no entanto, é representado pela sua vilã lovecraftiana, a Bela-Dama.
Um terror onírico e inexplicável, com olhos de botões e servindo como marionetista do outro mundo, a Bela-Dama é, de longe, um dos aspectos mais perturbadores do terror infantojuvenil. Seja pelo design único no filme ou pelas descrições assustadoras no livro, a vilã dá uma face reconhecível ao mal e impressiona qualquer jovem espectador que se aventure pela história de Gaiman.
A agressividade e a abordagem direta com o desagradável frequentemente suscitam o debate sobre se recomendar este livro para jovens é válido. Uma história de assombrações que utiliza artifícios básicos da literatura para impressionar é apenas um dos vários pontos que evidenciam o talento de Neil Gaiman, que afirma que um dos motivos que o levou a criar a história foi o desejo de assustar suas filhas.
Em 2024, a adaptação cinematográfica de Coraline completou 15 anos, com seu retorno às salas de cinema. Marcando uma geração de jovens e promovendo uma reinvenção técnica na arte do stop motion, “Coraline e o Mundo Secreto” é um clássico moderno quando se trata de filmes de animação e merece ser tratado como tal.