Do estereótipo de ‘mariquinha’ para os gays até o de ‘caminhoneira’ para as mulheres lésbicas, as diferentes orientações que compõem a comunidade LGBT+ têm suas representações nas grandes e pequenas telas. Muitas vezes feitas com a intenção de causar humor na audiência, esses estereótipos se vinculam rapidamente às orientações sexuais. É a partir dessas interpretações que a assexualidade e a arromanticidade frequentemente são percebidas. Com nenhuma ou pouca atração sexual ou romântica, essa sexualidade é uma das mais discriminadas, sendo frequentemente atribuída a distúrbios hormonais ou traumas.

Três arquétipos em representações midiáticas se associam a essa comunidade, que cresce em números a cada dia que passa.

O Arquétipo do “Bobo”

De Todd Chávez, em “BoJack Horseman”, passando pelo protagonista de “Bob Esponja” e chegando à versão dos quadrinhos de Jughead Jones, o personagem assexual é normalmente visto como o bobo da corte do grupo. Esse membro geralmente encabeça artimanhas complexas e sem sentido, mantendo uma inocência infantil em contraponto a um apetite voraz, que muitas vezes resulta na destruição dos mantimentos dos personagens coadjuvantes.

Entre os dois citados, Chávez é o único que mantém algum tipo de desenvolvimento, devido ao apagamento da sexualidade de Jughead na adaptação dos quadrinhos para a CW. Embora Todd seja responsável pelos momentos mais absurdos da série de Will Arnett, seu desenvolvimento como uma pessoa assexual protagoniza alguns dos momentos mais delicados da animação adulta. O personagem, dublado por Aaron Paul, mostra sua faceta mais vulnerável.

O Acadêmico ou Calculista

Um aspecto normalmente evidenciado pela falta de interesse sexual ou romântico é a dedicação ao aspecto estudioso e frio do personagem. Provavelmente o assexual mais conceituado da literatura foi a encarnação original de Sherlock Holmes, tão focado em sua carreira como detetive que qualquer relacionamento, exceto seu companheirismo com John Watson, lhe parecia totalmente irrelevante.

Muitos membros do panteão greco-romano se enquadram no espectro assexual, prezando o conhecimento acima de qualquer tipo de relacionamento. Exemplos podem ser encontrados nos mitos que recontam os feitos das deusas Atena, Ártemis e Héstia..

Esse arquétipo explicita o lado solitário da comunidade, onde muitas vezes os estudos aos quais são tão dedicados se tornam um obstáculo para amizades, exilando o personagem em questão a livros e conhecimentos, mas sem ninguém para compartilhá-los. Um dos exemplos mais recentes de aroaces desse arquétipo é a personagem Reyna, do universo mitológico de Rick Riordan.

O Manipulador

A falta de desejo, ou pelo menos de atração, é vista como um fator para personagens cujo principal traço é o poder de manipulação. Alheios a eventos ou relacionamentos que poderiam distrair de seus planos, os assexuais com traços manipulativos podem simplesmente servir como oponentes admiráveis em um tabuleiro de xadrez imaginário.

Alastor, o demônio do Rádio, de “Hazbin Hotel”, e Lorde Varys de “Game of Thrones” servem como membros da comunidade assexual que, por não se interessarem por qualquer outra pessoa, tramam por planos maiores. A revelação da sexualidade de Varys na quarta temporada da série foi um marco para a representação da assexualidade em tela, mostrando os aspectos moralmente questionáveis de seus membros.

 A comunidade assexual é uma das que mais cresce, com diferentes mídias apresentando novos personagens a cada dia, proporcionando identificação para muitas pessoas e mudando cenários de maneira única. Parafraseando a terapeuta sexual de “Sex Education”, Jean Milburn, a presença de atração ou relações sexuais não define a completude de alguém, portanto aqueles que clamam estar quebrados… estão completos à sua própria maneira.