Falar de Roman Polanski na Hollywood de 2024, é um grande tabu no mundo do entretenimento, principalmente após o movimento “Me Too”. O diretor polonês foi acusado de inúmeros crimes sexuais ao longo dos anos e está foragido do continente americano desde a década de 1970. Apesar disso, seu talento no cinema é inegável, sendo responsável por muitos clássicos. Entre suas obras mais renomadas está o terror psicológico que catapultou o subgênero do cinema satanista, “O Bebê de Rosemary”.

Rosemary e Guy Woodhouse,  um casal pronto para começar uma família, se mudam para um prédio de luxo com um passado perturbador. Após o aparente suicídio de uma moradora, o jovem casal se aproxima de um par de idosos enxeridos que têm muitas histórias para compartilhar. Quando Rosemary engravida, sua vida vira de cabeça para baixo, seja com outras pessoas prestando atenção a cada passo que ela dá ou com a incerteza sobre as origens e o bem-estar de seu bebê.

Um dos maiores sucessos do terror, ” O Bebê de Rosemary” é uma adaptação visceral e fiel da obra de Ira Levin, provocando o terror católico e explorando a presença de uma figura maligna. A ambientação do filme, o “assombrado” edifício Dakota, transmite uma sensação de claustrofobia e insegurança, semelhante ao Hotel Overlook de “O Iluminado”. A representação dos seres demoníacos, com foco em seus detalhes animalescos — garras e olhos amarelos — reforça o ideal atemporal do cinema, onde a imaginação do espectador é a principal ferramenta para criar uma narrativa desconfortável. O mesmo artifício é utilizado no icônico clímax do filme, quando descobrimos a verdade sobre o bebê.

O filme também aborda como o conceito de “histeria feminina” foi usado e modificado ao longo dos anos. A manipulação de Rosemary por seu marido e vizinhos extingue qualquer agência da protagonista, um aspecto que muitas adaptações tentaram modificar com o tempo. Manipulação e relacionamentos abusivos são tratados de forma sutil durante toda a duração do filme.

Apesar de tudo, o filme trata sobre o preço e a natureza da maternidade. Rosemary, uma figura marcada por traumas e abusos, supera tudo em prol de seu desejo de ser mãe. Esse desejo a leva, nos minutos finais, a uma escolha cujo significado é debatido por espectadores até hoje.

O filme conta com atuações dignas de prêmios de boa parte do elenco, embora Mia Farrow tenha sido injustiçada na temporada de premiações de 1969. Ruth Gordon, que interpretou a intrometida vizinha Minnie, ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante, por sua interpretação realista em uma história que inclui bruxos e demônios, com uma personalidade única. John Cassavetes e Sidney Blackmer também se destacam como Guy Woodhouse e Roman Castevet, respectivamente.

“O Bebê de Rosemary” serviu de inspiração para inúmeros filmes de terror e suspense, seja por sua narrativa realista, seja pela atmosfera claustrofóbica que transmite uma sensação de constante tensão.

Apesar de tudo que pode — e deve — ser dito sobre a vida pessoal de Roman Polanski, seu trabalho como diretor nunca foi tão visceral quanto em “O Bebê de Rosemary”.

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