Os filmes slasher vêm evoluindo ao longo do tempo, integrando tecnologias e artifícios modernos ou utilizando esses elementos para homenagear filmes clássicos, sejam eles do gênero ou não. A trilogia do diretor Ti West, conhecida como “Trilogia X”, procurou inspirar-se em clássicos do terror, ao mesmo tempo que criava um universo próprio, com suas cores e sombras únicas.
A franquia começa com o longa “X”, lançado em 2022. O filme segue Maxinne Minx, uma jovem aspirante ao estrelato que está disposta a tudo para alcançar seu objetivo. Inserida na indústria do entretenimento adulto, Maxinne e seus amigos decidem gravar uma cena erótica na fazenda de um casal de idosos hostis. O que deveria ser uma gravação inofensiva transforma-se em uma batalha pela sobrevivência, quando Pearl Douglas, a proprietária idosa, torna-se obcecada pela jovem atriz.
O universo de Ti West se expande com a prequela “Pearl”, que dá mais profundidade à antagonista e sua complexa relação com o mundo e o desejo de fama. Diferentemente de seu predecessor, “Pearl” é um filme visualmente vibrante, prestando homenagem aos musicais em Technicolor, como o clássico “O Mágico de Oz”. O longa, que se tornou extremamente popular nos meses após o seu lançamento, transforma a antagonista superficial e estereotipada do primeiro filme em uma personagem mais profunda e perturbada, que almeja o sucesso, mas nunca o alcança.
A trilogia se completa em “Maxxxine”, ambientada na Hollywood da era Reagan. Seis anos após seu confronto com Pearl e prestes a estrear no cinema, Maxinne se vê envolvida entre um detetive particular desagradável e um assassino com preferências por jovens devassas. Embora o filme não tenha medo de parecer previsível, ele aproveita para inserir reviravoltas interessantes, traçando paralelos com a vida e morte de Pearl, ao mesmo tempo que homenageia slashers clássicos. Isso culmina em um final intrigante para a trilogia, onde o preço da fama é novamente questionado, da mesma forma que ocorreu com Pearl. No entanto, o destino de Maxinne poderá ser diferente?
A trilogia surpreendeu críticos e espectadores com sua abordagem crua e direta, focando na brutalidade dos assassinatos. Enquanto muitas franquias de terror atuais utilizam ‘jump-scares’ para conectar assassinos e suas vítimas, em “Pearl” as interações com suas vítimas antecedem cenas intensas, criando uma atmosfera de desconfiança e violência. Em “Maxxxine”, o mistério em torno da identidade do assassino ajuda a criar a atmosfera sombria que permeou Los Angeles durante o reinado de terror de Richard Ramirez.
A franquia impulsionou a carreira da atriz de ascendência brasileira, Mia Goth, transformando-a na mais recente “rainha do grito”, destacando sua versatilidade em cenas de ação e drama. Seu monólogo em “Pearl” é particularmente notável, sendo uma amostra de seu talento. O elenco da trilogia se fortalece ao longo dos filmes, contando com nomes consagrados como Brittany Snow, Martin Henderson, Jenna Ortega, David Corenswet, Elizabeth Debicki, Kevin Bacon, Lily Collins, entre outros. Cada ator tem sua chance de brilhar em cena, seja em interações intensas com as personagens de Mia Goth ou em momentos que antecedem sua morte violenta.
Às vésperas da estreia de “Maxxxine”, Ti West demonstrou incerteza sobre encerrar a franquia, mas o diretor parece estar no caminho certo para reinventar o gênero slasher, com personagens cativantes e histórias brutais que refletem o preço da fama.