Francis Ford Coppola é responsável por obras cinematográficas divisivas e culturalmente relevantes, com altos e baixos em sua notável filmografia. No entanto, um projeto em particular promete ser o centro de muitos debates entre críticos e espectadores depois de passar décadas engavetado: “Megalopolis”, uma fábula de Coppola em produção desde 1977. Financiado pelo próprio diretor e adiado em inúmeras ocasiões, “Megalopolis” promete uma jornada marcante — seja para o melhor ou para o pior.
Ambientado em uma metrópole ultra futurista chamada Nova Roma, o épico de Coppola segue César Catilina, um ambicioso arquiteto com a habilidade de parar o tempo e o sonho de construir a cidade perfeita para substituir o mundo corrupto e cintilante, usando o ‘Megalon’, um material revolucionário capaz de se adaptar a tudo. Enquanto Catilina enfrenta desafios no desenvolvimento de sua utopia, o corrupto prefeito Franklin Cícero faz de tudo para impedir que seu plano se concretize. O filme usa Nova Roma, uma versão extravagante de Nova York, para tratar de temas como poder, dinheiro, criação, destruição, corrupção e política.
Com personagens e temas inspirados na Segunda Conspiração Catilinária permeando a narrativa, o filme de Coppola se revela extremamente complexo e, ao mesmo tempo, superficial, tornando-se uma produção desordenada, sem clareza sobre o que realmente deseja transmitir. A palavra “abstrato” pode ser aplicada em muitos momentos, sustentada por um roteiro no mínimo confuso que muitas tenta criar paralelos entre o protagonista e Francis.
O lado abstrato de Coppola, no entanto, brilha na maneira visual como apresenta o mundo de Nova Roma e “Megalopolis”, traçando inspirações do clássico alemão “Metropolis”. A modernidade de Nova York se mistura com a decadência das estéticas greco-romanas; técnicas de filmagem não convencionais; silhuetas reminiscentes da antiga e nova Hollywood e destruições que evocam o desastre do World Trade Center — um dos motivos pelos quais o filme foi adiado nos anos 2000 — ganham outra perspectiva, com sombras distorcidas como chamas enquanto a metrópole é devastada por um satélite soviético. Apesar do que pode ser considerado como falhas nos aspectos narrativos, o filme é um espetáculo visual.
O elenco estelar, liderado por Adam Driver e Nathalie Emmanuel, não garante atuações fenomenais, mas consegue tornar ‘críveis’ as falas mais questionáveis. Grandes estrelas são relegadas a segundo plano em prol do desenvolvimento de César e Julia Cícero, seu interesse amoroso. Além de Driver e Emmanuel, o filme conta com as presenças de Giancarlo Esposito, Laurence Fishburne, Jon Voight, Shia LaBeouf, Aubrey Plaza e Talia Shire.
Apesar de sua mensagem não ser perfeitamente delineada, “Megalopolis” é um projeto pessoal de Francis Ford Coppola, que nos oferece um espetáculo divisivo, misturando as intrigas dos senadores romanos com a expectativa de um mundo mutável e fascinante. Uma obra corajosa, mas falha, o filme é uma aventura que merece ser vista