Considerada a maior atriz brasileira da indústria do entretenimento, Fernanda Montenegro é uma verdadeira titã e é admirada por brasileiros de todas as idades. Com uma carreira que remonta ao período do rádio e ao nascimento da televisão brasileira, Montenegro explorou diferentes gêneros: arrancando risadas em folhetins cômicos, emocionando audiências em performances dramáticas ou chamando atenção com uma simples mudança de olhar. A atriz, a primeira brasileira indicada a um Oscar de atuação, completa 95 anos ainda apaixonada pelas artes, dedicando-se com intensidade à mesma arte que a consagrou e aproveitandoo tempo que lhe resta.
Nascida Arlette Pinheiro Monteiro, a estrela cresceu em uma família humilde na cidade do Rio de Janeiro, sendo descendente de imigrantes portugueses, espanhóis e italianos. Desde jovem, demonstrou interesse pelas artes, especialmente pelo rádio e pelo teatro, participando de peças amadoras na adolescência. Seu nome artístico foi escolhido por sua sonoridade e inspirado no sobrenome do médico da família.
Sua carreira profissional começou a florescer no final da década de 1940, tanto no rádio quanto no teatro, trabalhando com nomes como Nathalia Timberg e Fernando Torres, com quem se casou e formou uma família ligada ao audiovisual. Fernanda foi pioneira ao integrar a equipe da TV Tupi, a segunda emissora de televisão da América do Sul, onde atuou em vários projetos entre as décadas de 1950 e 1960. Seu talento, estilo de atuação e intuição artística destacaram-se desde cedo, traços que ela mantém até hoje. Durante os anos 1970, Montenegro se dedicou ao teatro, reinventando textos clássicos e criando personagens marcantes que consolidaram sua trajetória.
As décadas de 1980 e 1990 foram fundamentais para moldar a persona artística de Fernanda Montenegro. De volta à televisão, ela estrelou comédias populares, como a icônica Guerra dos Sexos e a mal-sucedida Zazá, além de telenovelas inesquecíveis, como Rainha da Sucata e O Dono do Mundo. Em 1998, Montenegro protagonizou o clássico de Walter Salles, Central do Brasil.
Em Central do Brasil, Montenegro interpretou Dora, uma mulher desiludida que vê sua vida mudar ao atravessar o nordeste brasileiro com o órfão Josué. O filme levou o nome de Fernanda a Hollywood e conquistou reconhecimento internacional, culminando em sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Embora fosse uma das favoritas ao prêmio, a estatueta foi para Gwyneth Paltrow, por Shakespeare Apaixonado, após uma intensa campanha promovida por Harvey Weinstein. A latinidade de Fernanda e a falta de apoio em uma campanha agressiva também foram apontados por críticos e atores como obstáculos para sua vitória.
Ao longo dos anos 2000, a atriz manteve sua relevância no cenário cultural. Embora nem sempre estivesse envolvida em projetos aclamados, sua presença enriquecia qualquer produção, fosse em comédias ou dramas. Nesse período, interpretou Leocádia Prestes, mãe de Luís Carlos Prestes, no filme Olga, e participou da dublagem do filme da Disney Nem que a Vaca Tussa. Montenegro também deu vida a personagens memoráveis, como Bia Falcão, em Belíssima, e Dona Picucha, em Doce de Mãe – papel que lhe rendeu o Emmy Internacional de Melhor Atriz, tornando-a a primeira brasileira a conquistar esse prêmio.
Mesmo na terceira idade, Fernanda continuou atuando em novelas e peças teatrais, além de advogar em prol da cultura nacional e refletir sobre a própria mortalidade. Durante a pandemia de COVID-19, ela participou de projetos ao lado de sua filha, Fernanda Torres. Em 2021, Montenegro foi eleita para ocupar a cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras, tornando-se uma das “imortais” da instituição fundada por Machado de Assis.
Aos 95 anos, Fernanda Montenegro continua exalando vitalidade e talento, inspirando gerações de artistas. Seu amor pela arte e pela cultura brasileira a consagra como uma das figuras mais ilustres e reverenciadas do país.