A Palma de Ouro é o prêmio de maior prestígio do Festival de Cinema de Cannes e um dos principais catalisadores da temporada de premiações. Em 2024, o vencedor foi o drama cômico “Anora”, dirigido por Sean Baker. Com uma protagonista marcante, uma trama caótica e cenas impactantes, o novo filme do diretor chamou a atenção de críticos e do público.
A história gira em torno de Ani, uma dançarina exótica que inicia um relacionamento com Ivan “Vanya” Zakharov, o imaturo filho de um oligarca russo. Após muitas festas, drogas e sexo em Las Vegas, os dois se casam. O matrimônio garante a Ani um futuro financeiramente promissor e a Vanya a permanência nos Estados Unidos. No entanto, o sonho de Ani desmorona quando a notícia chega aos influentes pais de Vanya. Cercada por seguranças russos e com o marido fugindo de suas responsabilidades, Ani luta para evitar a anulação do casamento e preservar o que resta de sua nova vida.
Extremamente caótico, o filme retrata uma escalada social seguida por uma queda livre. As cenas alternam diálogos em inglês e russo, com diversos conflitos entre Ani e outros personagens, incluindo momentos em que a protagonista, apesar de sua aparência frágil, enfrenta homens intimidadoras com coragem surpreendente. Além disso, “Anora” aborda as tensões entre as elites e as pessoas mais próximas de suas bases, mostrando como o poder esmagador prevalece sob qualquer circunstância.
O filme é frequentemente comparado ao clássico dos anos 1990, “Uma Linda Mulher”, mas oferece uma narrativa mais realista e distante de finais felizes. Enquanto o longa estrelado por Julia Roberts celebra o surgimento de sentimentos mútuos, Sean Baker ressalta a dureza da realidade e como nem sempre os desejos pessoais se alinham às circunstâncias. Com um senso de humor distorcido e uma abordagem sutil sobre os dilemas de classe, “Anora” se distancia do arquétipo da Cinderela, embora faça referências pontuais a ele.
O elenco oferece um destaque significativo a nomes do cinema contemporâneo russo. Mikey Madison, no entanto, rouba a cena com uma das melhores atuações do ano, equilibrando força e vulnerabilidade em sua personagem sem cair em estereótipos. Yuri Borisov também se destaca como Igor, um guarda simpático que luta para sobreviver de forma honesta. Já Mark Eyeldeshteyn, apelidado de “Timothée Chalamet russo”, dá vida ao imaturo Vanya de forma brilhante, tornando-o imediatamente detestável.
Embora possa ser ofuscado por grandes produções nesta temporada de premiações — como adaptações de musicais e filmes que expõem segredos de instituições seculares —, “Anora” se firma como uma surpresa para os amantes do cinema. Com uma narrativa consistente e atuações brilhantes, o longa prova que, às vezes, uma aventura pode terminar no mesmo lugar onde começou, mas ainda assim deixar marcas profundas.