Poucas coisas chocavam ou impressionavam Adolf Hitler. Por isso, receber do austríaco o título de “A mulher mais perigosa do mundo” talvez simbolize a importância histórica de uma figura que, para muitos, parecia maternal, carinhosa e relativamente inofensiva. Elizabeth Bowes-Lyon, avó do atual rei do Reino Unido, Charles III, testemunhou profundas transformações históricas e desempenhou um papel crucial na Monarquia Britânica, tanto como consorte quanto como Rainha Mãe.

Elizabeth Bowes-Lyon nasceu em 4 de agosto de 1900, na cidade de Hitchin, Hertfordshire, Inglaterra, em uma família nobre, mas não real. Filha do Conde de Strathmore e Kinghorne e da Condessa de Strathmore, teve uma infância tranquila e recebeu uma educação esmerada, típica da aristocracia britânica. Penúltima de dez filhos, cresceu cercada de conforto e privilégios, sem expectativas de envolvimento direto com a realeza, a não ser por meio do matrimônio.

Sua vida mudou ao conhecer o Príncipe Albert, segundo filho do rei. Apesar de inicialmente resistir às restrições da vida na Família Real, Elizabeth casou-se com Albert em 1923, tornando-se a Duquesa de York. O casal teve duas filhas: Elizabeth e Margaret Rose. Sua vida na realeza manteve certa discrição até 1936, quando, com a morte do Rei George V e a abdicação de Edward VIII, Albert ascendeu ao trono como Rei George VI, tendo Elizabeth ao seu lado como Rainha Consorte.

O momento decisivo para a popularidade de George VI e Elizabeth ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar da monarquia ter um papel simbólico, o casal real recusou-se a deixar a Inglaterra durante o conflito e enfrentou os bombardeios nazistas. Historiadores relatam que Elizabeth mantinha uma arma carregada e treinava sua pontaria em ratos que perambulavam pelo Palácio de Buckingham, temendo uma invasão alemã ou um sequestro. Hitler, ciente de sua influência e apoio moral ao povo britânico, a considerava um perigo para os interesses alemães e a denominou “a mulher mais perigosa da Europa”. Embora seu marido fosse a figura central dos discursos oficiais, Elizabeth teve um papel fundamental ao acompanhar o rei em compromissos e visitas pelo país, levando uma mensagem de esperança e resistência.

Com o fim da guerra, o casal real viu sua popularidade crescer ainda mais. Após a morte de George VI, em 1952, sua filha mais velha, Elizabeth II, assumiu o trono, e Bowes-Lyon passou a ser conhecida como Rainha Mãe, para se distinguir da nova soberana. Desde então, permaneceu uma figura respeitada e querida no Reino Unido, sendo considerada a matriarca da Família Real e a segunda mulher mais importante da monarquia. Como Rainha Mãe, representava a filha em eventos e viagens oficiais e manteve uma agenda tão ocupada quanto na época em que era consorte.

Com um senso de humor ácido e uma personalidade forte, a Rainha Mãe continuou a ser um dos membros mais populares da realeza até sua morte. Patrona das artes, mantinha uma relação próxima com o teatro e outras manifestações culturais. Viveu uma vida longa e notável, falecendo em 30 de março de 2002, aos 101 anos. Foi o primeiro membro da monarquia britânica a completar um século de vida e faleceu poucas semanas após a morte de sua filha mais nova, Margaret. Seu funeral, cujos planos já haviam sido usados para velar Diana Spencer em 1997, marcou o fim de uma vida extraordinária em uma cerimônia repleta de pompa.

Representações culturais de Elizabeth Bowes-Lyon costumam enfatizar diferentes aspectos de sua personalidade e relações. No seriado “The Crown”, ela é retratada como uma figura severa e controladora, defensora da monarquia acima de tudo. Durante sua vida, contudo, era frequentemente representada como uma figura materna e essencial para o funcionamento da instituição, tendo sido interpretada por grandes nomes, como Olivia de Havilland. Uma das representações mais notáveis foi a de Helena Bonham Carter em “O Discurso do Rei”. O filme premiado, que retrata a ascensão de George VI, apresenta Elizabeth como uma companheira fiel, mas não submissa ou isenta de falhas, ressaltando seu conhecido bom humor. Bonham Carter ganhou o Bafta e foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por sua performance.

A Rainha Mãe é lembrada por sua personalidade cativante, dedicação à família real e papel crucial na história moderna do Reino Unido. Seu legado como símbolo de resiliência, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial, continua a ser celebrado, consolidando sua importância na luta contra o fascismo e na preservação da monarquia britânica.

Categorized in: