Quando se pensa no nome “Hepburn” em 2022, qual é a primeira imagem que vem à mente? Uma jovem esguia, vestida de preto, saboreando um croissant em frente à vitrine da Tiffany? Naturalmente, essa seria Audrey Hepburn (que teria completado aniversário no início do mês). Mas hoje falaremos de outra atriz que compartilha o mesmo sobrenome: Katharine, considerada por muitos a maior atriz de todos os tempos. Curiosamente, nenhuma das duas Hepburns era aparentada — uma coincidência do destino.
Katharine Hepburn nasceu em 12 de maio de 1907, filha de um médico e de uma ativista feminista, ambos com ligações à elite norte-americana. Desde pequena, mostrou-se atlética e enérgica, dedicando-se com entusiasmo a esportes como golfe e tênis. Criada de forma pouco convencional para os padrões da época — e marcada pelo suicídio do irmão —, Katharine desenvolveu uma personalidade forte e reservada. Seu estilo andrógino e à frente de seu tempo já se manifestava antes mesmo de chegar a Hollywood. Antes disso, teve uma passagem arrebatadora pela Broadway, recebendo elogios calorosos da crítica.
Em 1932, Katharine estreou no cinema, contratada por 1.500 dólares por semana, nas mãos do diretor George Cukor. A fama foi imediata. No ano seguinte, viveu Jo March na adaptação de ‘Little Women’ e, em 1934, conquistou seu primeiro Oscar de Melhor Atriz por ‘Morning Glory’. Como tantas estrelas da Era de Ouro, após alguns filmes mal recebidos, acabou rotulada como “veneno de bilheteria” e se afastou momentaneamente do cinema, retornando aos palcos da Broadway.
O retorno triunfal ao cinema viria em 1942, quando ela comprou os direitos da peça ‘The Philadelphia Story’ . Contracenando com Cary Grant e James Stewart, reacendeu sua carreira e consolidou seu lugar em Hollywood. Nas décadas seguintes, reduziu o número de filmes, mas manteve a excelência: em 1968 e 1969, venceu dois Oscars consecutivos de Melhor Atriz.
Foi ao receber seu terceiro Oscar que Katharine empatou com a jovem Barbra Streisand. Ingrid Bergman, ao abrir o envelope, anunciou com surpresa: “É um empate”, gerando comoção na plateia. Foi a última vez que isso ocorreu em uma categoria de atuação, tornando-se um dos momentos mais marcantes da história do Oscar.
Mesmo com o avançar da idade, Hepburn se manteve ativa, embora passasse a aceitar papéis coadjuvantes com mais frequência. Em 1982, ganhou seu quarto e último Oscar de Melhor Atriz, por ‘Num Lago Dourado’. Até hoje, nenhuma atriz superou seu recorde de vitórias — a mais próxima é Frances McDormand, com três estatuetas na categoria principal. Em 1994, fez sua despedida das telas em um filme para a televisão.
Katharine Hepburn faleceu aos 96 anos, em 2003 deixando um legado singular e inimitável.
O Legado de Hepburn
Hepburn era tão reservada quanto talentosa. Apesar de colecionar Oscars, nunca compareceu a uma cerimônia para recebê-los. Sua única aparição no evento ocorreu em 1981, quando foi recebida com uma ovação de pé.
O estilo de vida extravagante de Hollywood sempre a incomodou. Preferia suas casas de campo, onde se dedicava a esportes e atividades intelectuais. Nos anos 1930, enquanto Marlene Dietrich encantava com sua sexualidade ambígua e Mae West provocava risos com suas frases de duplo sentido, Katharine causava espanto apenas por usar calças — algo quase transgressor na época. Sua androginia era um traço fascinante e marcante.
Katharine casou-se apenas uma vez, mas teve relacionamentos com homens notáveis: entre eles, o magnata Howard Hughes e o ator Spencer Tracy, seu parceiro de cena e grande amor. Sua relação com Hughes foi retratada no filme ‘O Aviador’, de Martin Scorsese, no qual Cate Blanchett a interpreta — papel que rendeu a Blanchett seu primeiro Oscar.
Hepburn é uma figura eterna de Hollywood, que moldou a indústria à sua imagem, sem jamais se dobrar às expectativas. Embora tenha nascido no início do século passado, sua postura e autenticidade ainda ressoam com impressionante modernidade.