Imagine: Hollywood, Los Angeles, entre as décadas de 1930 e 1950.

Se tudo desse certo, você acordaria irritado, fumando um cigarro em uma elegante piteira, e terminaria o dia após uma crise de pânico, com a ajuda de uma garrafa de champanhe e alguns comprimidos. Caso contrário, estaria trabalhando no baixo escalão da Paramount Studios, bem longe dos holofotes. Nos bastidores de um futuro sucesso de bilheteria, um colega comentaria o último rumor: uma das divas hollywoodianas estaria tendo um caso com outra mulher e… ninguém estaria surpreso, e poucos se importariam.

É tolice, na minha opinião, acreditar que membros da comunidade LGBT+ são uma “aquisição” recente do sistema hollywoodiano, quando muitos dos artistas que marcaram a história das telonas pertenciam à comunidade, mas, por conta da época, mantinham essa realidade em segredo. Durante a Era de Ouro de Hollywood, casamentos de fachada eram comuns — uma forma de evitar escândalos e preservar a imagem imaculada das estrelas. A vida sexual de muitos atores desse período permanece envolta em mistério, mas rumores, relatos e pesquisas de biógrafos sugerem que parte do alto escalão de Hollywood fazia de tudo para esconder suas verdadeiras identidades, arriscando-se em um mercado de trabalho instável e altamente moralista.

1 – Tallulah Bankhead (1902 – 1968)

Nascida no Alabama, Tallulah brilhou no teatro, no rádio, no cinema, e tornou-se, anos depois, a principal inspiração para a personagem Cruella De Vil. Viveu de forma boêmia, cercada por álcool, drogas e um histórico de relacionamentos diversos com homens e, principalmente, com mulheres.

A atriz se descrevia como “ambisexual” — um termo que usava no lugar de “bissexual” — e teve relacionamentos com o ator John Emery e o pintor Rex Whistler. Entre suas supostas amantes, segundo biógrafos, estavam Greta Garbo, Hattie McDaniel, Patsy Kelly, Mercedes de Acosta e Marlene Dietrich (prepare-se para ver esse nome mais vezes).

2 – Cary Grant (1904 – 1986)

Ao contrário dos personagens que interpretava, Cary Grant levava uma vida pessoal reservada e marcada por cinco casamentos fracassados. Um rumor persistente sugere que ele teria vivido um relacionamento com o ator Randolph Scott. Os dois galãs moraram juntos por doze anos e mantinham uma amizade muito próxima.

Mesmo após três décadas de sua morte e muitas negativas enfáticas, a sexualidade de Cary Grant ainda é alvo de especulação. Seria ele heterossexual, gay ou bissexual?

3 – Joan Crawford (190? – 1977)

Vencedora do Oscar de Melhor Atriz por Mildred Pierce, Joan Crawford é uma figura envolta em controvérsias — seja pela rivalidade com Bette Davis, pelos quatro casamentos ou pelos métodos rígidos na criação dos filhos. Ainda assim, era progressista no que se referia à liberdade sexual.

Bissexual assumida e considerada uma das mulheres mais belas da era clássica de Hollywood, Joan teve relacionamentos com grandes nomes como Clark Gable, Douglas Fairbanks Jr., Marilyn Monroe e, novamente, Marlene Dietrich.

4 – Montgomery Clift (1920 – 1966)

Monty Clift, astro de O Rio Vermelho e Julgamento em Nuremberg, foi um dos grandes corações partidos das décadas de 1940 a 1960. Como Cary Grant, era discreto quanto à vida íntima, o que alimentava constantes rumores sobre sua orientação sexual. Após um grave acidente de carro, e o uso abusivo de medicamentos, Clift tornou-se sexualmente impotente, de acordo com a biografia escrita por Patricia Bosworth — fato que agravou seu já delicado estado emocional.

O irmão do ator afirmou que a possibilidade de Monty ser gay ou bissexual era bastante alta. Em 2000, Elizabeth Taylor, confidente e amiga próxima do ator, confirmou publicamente que ele era homossexual.

5 – Marlon Brando (1924 – 2004)

Protagonista de Um Bonde Chamado Desejo e O Poderoso Chefão, Marlon Brando foi um sex symbol incontestável e também notório por sua vida pessoal intensa. Descrito como “sexualmente insaciável”, o ator mantinha relacionamentos com homens e mulheres, e falava sobre isso com naturalidade — algo quase impensável para sua época.

Entre seus casos estariam: Rita Moreno, Marilyn Monroe, Marlene Dietrich, Ava Gardner, Grace Kelly, Rock Hudson, James Dean e Montgomery Clift. Os rumores sobre noites apaixonadas entre Brando e James Dean ainda alimentam o imaginário dos fãs até hoje.

6 – Marlene Dietrich (1901 – 1992)

Nascida em Berlim, Marlene Dietrich foi uma das figuras mais influentes do século XX, não apenas por seu magnetismo nas telas, mas também por sua oposição aberta ao nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Estrela de Marrocos e Testemunha de Acusação, Dietrich foi uma das poucas a manter sua vida sexual visível ao público, mesmo em uma época de repressão.

Protagonista de um dos primeiros beijos lésbicos da história do cinema, ela utilizava o sexo como forma de subverter o poder masculino e se conectar com outras mulheres. Isso foi amplamente discutido por sua filha, Maria Riva, na biografia publicada pouco após sua morte.

Entre seus (muitos) amantes estavam: Dolores del Rio, James Stewart, Douglas Fairbanks Jr., Mercedes de Acosta, Errol Flynn, JFK, Kirk Douglas, Frank Sinatra, Greta Garbo — e a lista segue.

Casos como os de Tallulah Bankhead, Marlene Dietrich e Joan Crawford eram exceções. Muitos artistas que ousavam falar abertamente sobre sexualidade desapareciam das telas. A imagem dos atores dessa era precisava ser imaculada, e qualquer ameaça a essa pureza — fosse uma orientação considerada “desviante” ou uma simples associação com os chamados “indesejáveis” — era rapidamente eliminada pelos grandes estúdios. Assim, dezenas de artistas permaneceram presos em um armário eterno, ocultando suas verdades em nome da carreira e da sobrevivência.

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