A saga de ‘Lilo & Stitch’ ocupa um lugar notável no grande panorama dos Estúdios de Animação da Disney. Lançado em uma época em que as animações tradicionais já não despertavam tanto interesse, a história da pequena garota havaiana e seu alienígena de estimação conquistou públicos ao redor do mundo, dando origem a uma das franquias mais rentáveis do estúdio. ‘Lilo & Stitch’ é uma das animações mais memoráveis da Disney, sendo uma das primeiras a retratar o amor fraterno como força motriz — muitos anos antes do fenômeno ‘Frozen’ chegar às telas. O Disney+ encomendou uma adaptação em live-action do filme, inicialmente prevista para a plataforma, mas posteriormente remanejada para lançamento nos cinemas internacionais. A questão que fica é: será que essa nova versão de um dos contos de fadas modernos mais queridos da Disney alcança seu verdadeiro potencial?
Lilo Pelekai vive com sua irmã mais velha, Nani, no Havaí. Stitch é uma experiência alienígena fugitiva que, coincidentemente, aterrissa na mesma ilha e acaba sendo adotado pelas irmãs sob a identidade de um cachorro. Quando o criador de Stitch, o cientista maluco Jumba, chega ao arquipélago para capturá-lo, o pequeno alien azul precisa proteger Lilo enquanto aprende os valores de ‘ohana’ — a ideia de que família significa nunca abandonar ou esquecer ninguém — e descobre que é capaz de muito mais do que os outros imaginam.
O novo filme faz algumas mudanças pontuais na história, removendo personagens do original e adicionando rostos novos. A relação entre Nani e Lilo permanece como o coração da narrativa, embora o foco nos dilemas pessoais da irmã mais velha — e nos sacrifícios que ela precisou fazer para sustentar a caçula — adicione uma camada de seriedade maior à obra, mesmo que sua interpretaçã ode Ohana nao tenha o ar lúdico e atemporal. Personagens coadjuvantes carismáticos, com vínculos divertidos ao clássico animado, formam uma rede de apoio que as protagonistas não tiveram anteriormente.
O lado espacial e alienígena do filme é tratado de forma mais contida, provavelmente por conta do orçamento limitado para efeitos especiais. Isso pode desapontar alguns fãs, mas os designs retirados da animação se adaptam razoavelmente bem ao estilo realista do longa. Stitch é o ápice dessa transição, seja por sua personalidade caótica, seja pelos efeitos visuais que, felizmente, não caem no “vale da estranheza”. Já os outros alienígenas aparecem disfarçados como humanos, o que garante momentos de humor, embora menos criativos do que os absurdos divertidos da animação original.
A pequena Maia Kealoha interpreta Lilo com carisma e autenticidade, oferecendo uma personagem excêntrica, sensível e surpreendentemente sábia. Sydney Elizabeth Agudong entrega uma Nani mais centrada, imersa em uma espécie de “escolha de Sofia”, transmitindo bem a carga emocional do papel com olhares intensos e expressões preocupadas. Zack Galifianakis e Billy Magnussen completam o elenco como Jumba e Pleakley, formando uma dupla que, mesmo involuntariamente, arranca boas risadas.
A mensagem do filme permanece clara: família pode ter formas e tamanhos variados, e o laço entre as irmãs continua sendo o elemento que sustenta a história. Maia Kealoha e Stitch emocionam em cenas delicadas e profundas, em que poucas palavras são ditas, mas muito é sentido.
Breve e inofensivo, ‘Lilo & Stitch’ cumpre seu papel de manter a franquia viva na cultura popular. Traz mudanças pontuais e preserva o charme lúdico do original. Era um filme necessário? Provavelmente não. Mas sua existência também não representa nenhum mal — apenas mais uma forma de celebrar um clássico que ainda toca corações.