Como destaquei no artigo que escrevi em homenagem a Marilyn Monroe, por ocasião dos 60 anos de sua morte, os filmes que buscam recontar sua trágica trajetória frequentemente se apoiam em um sensacionalismo barato, reforçando uma percepção equivocada que o público ainda mantém sobre essa figura icônica de Hollywood.
“Blonde”, novo filme de Andrew Dominik lançado na Netflix em 28 de setembro, é esteticamente atraente, mas parece não ter outro propósito senão humilhar Norma Jeane Mortenson e desrespeitar seu legado. Com Ana de Armas no papel de Monroe, acompanhamos uma versão ficcional da vida da atriz, desde a infância até sua morte.
Desde o início, é importante observar que Dominik demonstra ser um cineasta alheio à figura de Marilyn. Em entrevistas recentes, ele desdenhou do clássico Os Homens Preferem as Loiras, descrevendo-o como “um filme de putas bem vestidas”, além de menosprezar boa parte da filmografia da atriz. É essencial ter isso em mente: trata-se de alguém que, evidentemente, não nutre respeito algum por Marilyn, à frente de um filme que pretende recontar sua vida.
E acreditem: isso é evidente.
O filme é dirigido por alguém cuja única visão de Monroe parece ser a de um símbolo sexual. Há cenas em que a personagem atinge o orgasmo intercaladas com imagens das Cataratas do Niágara; momentos prolongados em que permanece com os seios à mostra; e uma cena particularmente grotesca de sexo oral, na qual ouvimos seus pensamentos afirmando que “tem que engolir”, enquanto Kennedy geme de prazer.
Francamente, não me surpreenderia se surgissem alegações de que Dominik se masturbava durante as filmagens.
Além disso, o longa parece ter um prazer quase sádico em recriar os momentos mais trágicos da vida de Monroe. Quer uma cena intensa de violência sexual? Está lá. Ou que tal duas sequências de aborto… do ponto de vista do feto? Blonde está pronto para satisfazer esse fetiche.
Talvez o único mérito do filme seja a atuação de Ana de Armas. A atriz cubana entrega tudo de si para oferecer uma boa performance, ainda que sua personagem careça de profundidade e conflito real. É uma grande atuação — só é uma pena que não exista um filme à altura para sustentá-la.
Mesmo tratando-se de uma biografia ficcional, Blonde presta um desserviço ao legado de Marilyn Monroe, ao retratar sua vida por meio de lentes fetichistas e cruéis. Para qualquer pessoa que nutra respeito ou carinho por Marilyn, fica a dica: não assista a esse filme.