Apesar de serem o rosto da divisão de animações da Warner Bros., a forma como o conglomerado tem tratado os “Looney Tunes” revela um desrespeito crescente ao gênero. Reduzidos a produções de qualidade duvidosa — quando, de fato, aparecem —, os personagens enfrentam um abandono que contrasta com o zelo que outros estúdios, como a Disney, demonstram por seus “Mickeys”. Um raro sopro de vida à franquia, no entanto, vem com o divertido e caótico “O Dia em que a Terra Explodiu”.
Na trama, em mais um dia comum, Gaguinho e Patolino tentam arrecadar dinheiro para consertar um buraco no telhado. Para isso, aceitam um trabalho em uma fábrica de chicletes, ao lado de Petúnia, uma porquinha determinada a encontrar o sabor perfeito da goma de mascar. Porém, logo os três se veem como a última esperança da Terra quando um plano diabólico — e gosmento — começa a se desenrolar.
A animação mistura o clima de clássicos de ficção científica como “Invasores de Corpos” e ‘O Dia em que a Terra Parou’ com o caos anárquico das primeiras encarnações dos Looney Tunes. A história, embora simples, funciona como uma verdadeira carta de amor à franquia, que deu vida a personagens inesquecíveis. Ao contrário de produções anteriores que se limitavam a compilações de curtas ou aventuras medíocres em live-action, esta narrativa original e frenética abraça a essência caótica e mágica dos personagens. Mesmo nesse turbilhão de acontecimentos, o filme não perde o coração, abordando com sensibilidade temas como lealdade e amizade.
Embora personagens como Pernalonga, Piu-Piu e Papa-Léguas recebam mais destaque em outras produções, a escolha de centralizar a trama em Gaguinho e Patolino traz equilíbrio ao filme: o porquinho é cauteloso e ponderado, enquanto o pato mais famoso das animações encara qualquer desafio com energia explosiva.
Rara no cinema ocidental contemporâneo, a animação tradicional é o grande trunfo do longa, destacando-se por sua dinamicidade, elasticidade e expressividade. O CGI dificilmente capturaria com a mesma eficácia o exagero visual que dá vida às piadas e ao universo nonsense dos Looney Tunes.
O Dia em que a Terra Explodiu prova que ainda há espaço — e demanda — para animações irreverentes, autorais e visualmente ousadas. É uma celebração da loucura controlada que fez dos Looney Tunes ícones culturais, e um lembrete de que, quando tratados com o respeito e a liberdade criativa que merecem, esses personagens ainda têm muito a oferecer.