Sabe… 2021 tem sido um ano relativamente agitado para os fãs de musicais, não é verdade? A Broadway voltou com força total após mais de um ano de paralisação por conta da Covid-19. Séries que homenageiam grandes clássicos do passado ganharam espaço, e várias adaptações foram lançadas ao longo do ano.
Entre elas, está Todos Estão Falando Sobre Jamie, adaptação do musical de 2017, que estreou na Amazon Prime Video em 17 de setembro. Baseado em uma história real, o musical acompanha Jamie New, um adolescente de 16 anos que sonha em se tornar uma Drag Queen. Para isso, ele precisará enfrentar os preconceitos de uma cidade conservadora e lutar para realizar seu sonho.
NOTA DO AUTOR: Antes de começar, só quero deixar claro que meu conhecimento no universo das Drag Queens é MÍNIMO. Nunca assisti RuPaul’s, nunca pesquisei sobre o assunto, mesmo sabendo que minha atriz favorita foi uma grande inspiração para o movimento. De qualquer forma eu acredito que as expressões artísticas e a expansão desse universo são importantes para a comunidade LGBT+ e espero acompanhar um pouco mais a partir de hoje.
Diferente de algumas adaptações (estou olhando para você, Dear Evan Hansen), a transição do palco para a tela foi fluida. Graças a uma direção sólida, o filme soube o que manter e o que cortar do material original, sem perder o charme da peça — pelo menos na maior parte do tempo. O elenco compreende o tom e a mensagem da história de maneira fiel e emocionante, resultando em performances marcantes. Vale destacar que este é o primeiro trabalho de Max Harwood, que interpreta o protagonista com autenticidade e carisma.
Richard E. Grant, no papel do mentor de Jamie, é um dos pontos altos da produção. Ao contrário de outros atores héteros que já interpretaram personagens LGBTQIA+ de forma caricata (sim, estou olhando para você, James Corden), Grant entrega uma performance sensível e sincera. A primeira vez que vemos Hugo encarnar sua persona drag, Loco Chanelle, percebemos o quanto aquela identidade é uma armadura — como ele mesmo diz — para enfrentar o mundo.
Os personagens mantêm as principais características da peça original, mas aqui ganham mais profundidade. Jamie é determinado, mas muitas vezes impulsivo, sem medir as consequências de suas ações. Hugo quer ajudá-lo a alcançar seu potencial, ao mesmo tempo que lida com as dores e perdas vividas durante a epidemia da AIDS. Até o valentão da escola, que poderia ser apenas um estereótipo, recebe um pouco mais de nuance.
No quesito números musicais, confesso estar dividido. Alguns são verdadeiros espetáculos, com edições dinâmicas e referências à cultura pop. Outros, porém, optam por uma abordagem minimalista — são personagens simplesmente sentados, cantando sozinhos. É uma escolha estética, no mínimo, curiosa. Ainda assim, as músicas que permaneceram na adaptação conseguem alternar entre momentos contagiantes e melancólicos com naturalidade, e vão ecoar na sua cabeça por um bom tempo.
Um dos maiores destaques é a canção original This Was Me, que narra a juventude de Hugo, a trajetória do movimento LGBTQIA+ na Inglaterra sob o governo Thatcher, a epidemia de AIDS, a morte de Freddie Mercury e o período em que a Princesa Diana visitou pacientes infectados. Precisei pausar o filme após essa cena para me recompor. O diretor, em seu primeiro trabalho no cinema, fez escolhas acertadas ao adaptar certos momentos da peça, criando cenas simples, porém profundamente eficazes.
Todos Estão Falando Sobre Jamie não é uma obra-prima nem traz uma narrativa revolucionária. Mas é uma adaptação que respeita e aprimora o material original, nos apresentando personagens vibrantes que não têm medo de sonhar, lutar e conquistar respeito. E, convenhamos, é revigorante ver uma narrativa queer com personagens bem desenvolvidos e um final positivo. Se você decidir assistir, é bem provável que saia dessa experiência um pouco melhor do que entrou. Pelo menos foi o que aconteceu comigo.