Bong Joon Ho ascendeu ao estrelato em Hollywood com seu premiado filme “Parasita”, uma obra que redefiniu os rumos do cinema mundial. Reconhecido como um dos mais influentes cineastas do século XXI, o sul-coreano possui um estilo único, caracterizado pela habilidade de transitar entre gêneros e surpreender o público com abordagens inovadoras. Suas narrativas são instigantes, recheadas de críticas sociais contundentes e personagens complexos. Embora tenha se tornado um nome globalmente celebrado em 2019, com o sucesso avassalador de “Parasita” no Oscar, sua trajetória de excelência já era evidente em trabalhos anteriores. Um exemplo marcante é “Okja”, um filme que mistura aventura, drama e sátira política para contar uma história tocante e provocadora.
Em “Okja”, somos apresentados à história de Mija, uma jovem que vive nas montanhas da Coreia do Sul ao lado de sua melhor amiga: Okja, um porco geneticamente modificado. A criatura faz parte de um projeto conduzido pela poderosa corporação Mirando, que busca desenvolver fontes de carne geneticamente aperfeiçoadas para alimentar a população mundial. Quando Okja é escolhida como o exemplar mais promissor do projeto e enviada aos Estados Unidos para um evento midiático, Mija embarca em uma missão para resgatá-la. Com a ajuda de um grupo de ativistas ambientais, a jovem enfrenta a dura realidade da indústria da carne e os interesses implacáveis da Mirando Corporation.
Assim como em outras obras do diretor, “Okja” apresenta uma crítica mordaz ao sistema capitalista, mas desta vez com um foco especial na crueldade da indústria alimentícia. No entanto, o filme não se limita a uma propaganda vegana simplista: Mija, por exemplo, não é vegetariana, e o roteiro não se furta a satirizar os extremos tanto da corporação quanto dos ativistas. O objetivo de Bong Joon Ho é evidenciar a forma brutal como os animais são tratados até chegarem ao prato dos consumidores. Algumas cenas são impactantes e podem impressionar os mais sensíveis, evidenciando a frieza dos processos industriais que transformam seres vivos em mercadoria.
A produção, que combina o cinema sul-coreano e hollywoodiano, conta com um elenco estrelado. Tilda Swinton brilha no papel das irmãs Lucy e Nancy Mirando, empresárias ambiciosas e de personalidades contrastantes. Paul Dano interpreta o líder dos ativistas ambientais, um homem que oscila entre a serenidade e a agressividade. O elenco também inclui Giancarlo Esposito, Lily Collins, Steven Yeun e uma performance caricata e provocadora de Jake Gyllenhaal, que divide opiniões.
O design de Okja é um dos grandes trunfos do filme. Inspirada em grandes mamíferos e personagens icônicos da animação, como Totoro e Dumbo, a criatura foi criada por meio de um impressionante trabalho de CGI, garantindo expressividade e profundidade emocional. A relação entre Mija e Okja é o cerne do filme, funcionando como o eixo emocional da narrativa.
“Okja” é um filme poderoso, que equilibra aventura, drama e crítica social de maneira envolvente. Bong Joon Ho mais uma vez demonstra sua capacidade de contar histórias universais, tocantes e politicamente afiadas, consolidando-se como um dos grandes mestres do cinema contemporâneo.