Entre o desempenho aquém do esperado de “Pinóquio” e a recepção surpreendente de “Dumbo”, Walt Disney desenvolveu um de seus projetos mais ambiciosos: “Fantasia”. Com a orquestra regida pelo renomado maestro Leopold Stokowski, “Fantasia” mesclava músicas clássicas conhecidas com, provavelmente, a melhor animação que o estúdio poderia proporcionar. Enquanto a companhia ainda estava tentando encontrar seu tom, este filme “artístico” foi uma das primeiras ocasiões em que a animação não era estritamente focada em crianças, mas sim vista como um meio de criar arte.

Sessenta anos o separam de sua continuação, “Fantasia 2000”. Lançado no período conhecido como a “Era Experimental” do estúdio, o filme procura adicionar sinfonias que ficaram de fora do original e explorar ritmos e animações diferentes. Apoiando-se na crescente popularidade de seu antecessor e lançado às vésperas da virada do milênio, “Fantasia 2000” não carrega o peso de sua contraparte clássica.

Vinte e cinco anos separam “Fantasia 2000” da Disney moderna, comandada por Bob Iger e focada no desenvolvimento de produtos com valores nostálgicos e dependente de franquias milionárias, porém narrativamente saturadas. Um projeto como os “Fantasia” é visto como impossível de acontecer atualmente, pois se trata de algo mais criativo do que financeiro, marcando a principal diferença entre a empresa de Walt e a de Iger.

Fantasia

Mesmo que a bilheteria inicial não tenha sido a esperada, o terceiro longa-metragem dos Estúdios Disney é hoje visto como um dos filmes mais artisticamente relevantes, explorando os confins do cinema, da animação e da música de maneira única. Diferentemente do que havia sido feito até então, “Fantasia” não segue um enredo convencional, mas sim uma série de esquetes animadas apresentadas pelo crítico e compositor Deems Taylor, em um ambiente repleto de sombras. Sob a regência de Leopold Stokowski, conhecido por trabalhar sem o uso de uma batuta, o filme apresenta clássicos de Beethoven e Tchaikovsky.

Embora segmentos como “Sinfonia Pastoral” e “O Aprendiz de Feiticeiro” sigam estilos característicos de animação da Disney, sendo este último a estreia cinematográfica de Mickey Mouse, a maior parte dos curtas possui um caráter atemporal, criando uma experiência única que combina o apreço pela animação e pela música. Quando foi lançado originalmente em 1940, “Fantasia” misturou o entretenimento do cinema com a elegância de um concerto.

Fantasia 2000

Walt Disney já estava há muito tempo falecido, e o mundo havia entrado na era das celebridades, enquanto a companhia emergia da Renascença Disney, um período de filmes prósperos que elevaram os padrões da animação. Foi nesse contexto que “Fantasia 2000” surgiu, ressuscitando o conceito proposto por Walt, mesclando novos estilos de animação com sinfonias únicas. O filme traz à tona “Rhapsody in Blue” e adapta clássicas histórias de maneira que remete aos tempos áureos da Disney. As animações de Eric Goldberg e dos demais animadores estão entre os melhores trabalhos do estúdio e serviram como introdução a músicas clássicas para a “Geração MTV”.

O filme, ao contrário de seu antecessor, peca na elegância e dignidade. O papel que outrora foi desempenhado por Deems Taylor passou a ser feito por celebridades como Steve Martin, Bette Midler, Penn e Teller em esquetes sem graça e condescendentes com a audiência. Além da falta de elegância, o filme focou muito mais na linearidade de seus segmentos de uma maneira segura.

Vinte e cinco anos separam a Disney de “Fantasia 2000” e o monopólio atual comandado por Iger. Mesmo que tenha pecado na elegância de seu antecessor, o longa transmite um aspecto criativo há muito perdido pelo estúdio e é uma das maiores surpresas do mesmo. Embora o sonho de continuações de “Fantasia” tenha se perdido, a certeza de que houve tentativas demonstra um respeito ao legado de Disney.

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