As origens do Coringa, o príncipe palhaço do crime de Gotham, variam conforme suas diversas adaptações. Em 2019, a Warner e a DC, em parceria com o diretor Todd Phillips – conhecido pela trilogia “Se Beber, Não Case” – lançaram o filme “Coringa”, buscando criar uma origem convincente para o principal rival do Homem-Morcego. Inspirado por muitos trabalhos de Martin Scorsese e com atuações brilhantes, o filme foi recebido com controvérsias, mas também com grande sucesso, rendendo a Joaquin Phoenix o último Oscar de Melhor Ator antes da pandemia de COVID-19. Agora, em outubro de 2024, a expansão desse universo chega com “Joker: Folie à Deux”, novamente com Joaquin Phoenix, agora acompanhado por Lady Gaga.

À espera de julgamento por todas as pessoas que matou, Arthur Fleck está preso em Arkham. Durante uma aula de terapia musical, ele conhece a igualmente insana Harleen “Lee” Quinzel, e os dois se apaixonam. Em meio a delírios, loucura e música, o Coringa e sua Arlequina exploram temas como justiça e saúde mental, enquanto tentam distinguir o que é real do que é imaginário.

O filme mantém certos aspectos técnicos de seu antecessor, como a fotografia intimista e a criação de uma Gotham à beira do colapso. Todd Phillips, de maneira criativa, repudia a apropriação do personagem de Joaquin Phoenix pela comunidade incel após o lançamento do primeiro filme, numa tentativa de “destruir sua própria criação”.

A trama de “Folie à Deux” carece de profundidade em comparação ao filme anterior, optando por uma abordagem mais superficial ao tratar da exploração midiática de pessoas com distúrbios mentais. Enquanto no primeiro filme Phillips se inspirou em obras de Scorsese, desta vez o diretor tenta um viés mais original, situando a história principalmente em dois locais: Arkham e um tribunal que deseja a cabeça de Fleck.

Com o uso de músicas de clássicos do cinema, como “Sweet Charity” e “Summer Stock”, o filme tenta ao máximo se distanciar do conceito tradicional de musicais, com números apressados e sem grande criatividade, além do excesso de canções que, por vezes, não se encaixam organicamente na narrativa.

Joaquin Phoenix retorna ao seu papel premiado, com as mesmas nuances que encantaram o público em 2019, desta vez motivado pelo amor. Lady Gaga dá vida a Lee Quinzel, uma versão inédita da Arlequina e um dos pontos altos do filme, representando simbolicamente os fãs do Coringa, tentando levar Arthur ao seu limite.

Assim como Madonna em “Dick Tracy”, Gaga lançou um álbum inspirado no filme, intitulado “Harlequin”, no qual revive vários clássicos musicais. Canções originais como “Folie à Deux” e “Happy Mistake” mostram o talento e a complexidade da cantora premiada.

Apesar das ótimas atuações e de alguns aspectos técnicos interessantes, “Joker: Folie à Deux” é uma decepção para muitos que esperavam uma expansão mais complexa desse universo insano. O filme parece mais uma tentativa do diretor de responder a fãs tóxicos, resultando em um musical que se envergonha de ser um musical. “Folie à Deux” é um segundo ato decepcionante de uma obra com grande potencial.

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