A Família Real Britânica é uma das mais exploradas pela mídia. Filmes, séries e documentários sobre os reis e rainhas do Reino Unido são sempre cercados de prestígio, como comprova o sucesso da série da Netflix ‘The Crown’. Entre as muitas figuras retratadas ao longo dos seis anos da produção, destaca-se uma personagem frequentemente esquecida pela história: a sogra da Rainha Elizabeth II, a Princesa Alice de Battenberg.
A vida da Princesa Alice foi marcada por eventos dramáticos e uma notável dedicação ao serviço humanitário. Nascida em 25 de fevereiro de 1885, no Castelo de Windsor, ela era neta da “Avó da Europa”, a Rainha Vitória. Sua origem familiar estava profundamente enraizada na aristocracia britânica e europeia, com vínculos diretos a várias casas reais. Desde cedo, Alice demonstrava um forte senso de responsabilidade, tanto para com sua família quanto com seu país. Sua educação incluiu línguas, história e artes. Era descrita como uma jovem introspectiva e tímida, que preferia atividades solitárias, como leitura e desenho. Inteligente e compassiva, características que a definiriam por toda a vida, Alice nasceu surda de um ouvido, condição com a qual conviveu ao longo dos anos.
Em 6 de outubro de 1903, casou-se com o Príncipe Andrew da Grécia e Dinamarca, em uma união tanto política quanto pessoal. O casal teve cinco filhos, incluindo Philip, que viria a se casar com a então Princesa Elizabeth. No entanto, sua vida na Grécia logo se complicou. A família real grega enfrentou intensos conflitos políticos, especialmente durante as Guerras Balcânicas e a Primeira Guerra Mundial. Apesar da instabilidade e das pressões, Alice manteve-se fiel aos seus deveres e à sua família.
Em 1922, após um golpe militar, o príncipe Andrew foi exilado e a família mudou-se para Paris. Esse período marcou profundamente Alice, que enfrentou dificuldades emocionais e problemas de saúde agravados pelo sofrimento do exílio. Seu casamento deteriorou-se, principalmente pela dificuldade do marido em adaptar-se à nova realidade. Em 1930, Alice foi internada contra sua vontade em uma instituição psiquiátrica na Suíça, diagnosticada com esquizofrenia.
Durante sua internação, foi submetida a tratamentos considerados modernos na época, mas hoje vistos como invasivos e cruéis. O caso chegou ao conhecimento de Sigmund Freud, que, consultado pelo médico Binswanger, recomendou um procedimento controverso: a aplicação de raios X nos ovários para induzir uma menopausa precoce, acreditando que o misticismo de Alice era fruto de desejos sexuais reprimidos.
Apesar dos sofrimentos, foi durante a Segunda Guerra Mundial que Alice demonstrou sua maior coragem. Vivendo em Atenas, ela ofereceu abrigo a uma família judia, enquanto os nazistas ocupavam a Grécia e deportavam milhares para campos de concentração. Já devota da Igreja Ortodoxa Grega, Alice se opôs à brutalidade nazista e atuou ativamente na proteção de inocentes, organizando suprimentos e cuidados médicos. Mais tarde, descobriu-se que mantinha contato com a Resistência Grega, ajudando a enfraquecer a ocupação alemã.
Após a guerra, continuou no exílio, mas sua reputação como mulher íntegra e humanitária se espalhou. Em 1962, foi reconhecida pelo governo de Israel como “Justa entre as Nações” por seus esforços em salvar judeus durante o Holocausto — uma homenagem à sua coragem e altruísmo.
Nos últimos anos de vida, Alice mudou-se para um convento em Atenas e se dedicou à vida religiosa, tendo feito votos como freira da Igreja Ortodoxa Grega. Após novo golpe militar na Grécia, foi resgatada pela família real britânica e viveu seus últimos anos no Palácio de Buckingham.
A Princesa Alice faleceu em 5 de dezembro de 1969, aos 84 anos. Seu funeral reuniu membros da realeza europeia, incluindo seu filho, o Príncipe Philip, Duque de Edimburgo e consorte da Rainha Elizabeth II.
O legado da Princesa Alice de Battenberg é de coragem, compaixão e resiliência. Seus atos heroicos, sobretudo o salvamento de vidas durante o Holocausto, foram reconhecidos postumamente e continuam a inspirar. Sua trajetória mostra que mesmo aqueles nascidos em berço real podem fazer contribuições extraordinárias à humanidade, guiados por sacrifício pessoal e integridade moral.