Uma gueixa, interpretada por Gong Li, sai de seu estabelecimento enquanto duas irmãs são levadas para dentro. Chiyo, de grandes olhos azuis, é escolhida para ser treinada naquela Okiya, enquanto sua irmã é levada para um bordel. Assim se inicia o filme “Memórias de uma Gueixa” de 2005.

O segundo filme do diretor Rob Marshall conta com nomes no elenco como Michelle Yeoh, Ken Watanabe e Gong Li. O drama de época retrata a visão americana da cultura japonesa: embora belo de se ver, não é historicamente preciso nem oferece conhecimento significativo para aqueles interessados na história do Japão.

O filme acompanha Chiyo, criada em uma casa de gueixas, que tem a oportunidade de se tornar uma sensação sob a tutela da sábia Mameha. Em sua jornada para se tornar uma gueixa, Chiyo se transforma juntamente com seu país, à medida que este adentra na Segunda Guerra Mundial, e descobre os diferentes preços e sacrifícios vivenciados por uma maiko.

O filme causou controvérsia por escalar poucos atores japoneses, sendo que todas as suas protagonistas têm origens chinesas, para contar uma história estritamente japonesa. Chegando a ser banido na China, “Memórias de uma Gueixa” se aproxima mais de um ensaio estético do que de uma análise profunda da cultura japonesa. Como muitos antes dele, o filme pode ser um claro exemplo de orientalismo, onde o exótico é vendido como rotina nos mercados norte-americanos.

Controvérsias à parte, o filme aborda diferentes formas de abusos no ramo do entretenimento e provoca discussões sobre os sacrifícios em busca da perfeição, encapsulados na beleza e elegância das gueixas. A modernização rápida do Japão, da década de 1920 até a década de 1940, é um dos principais cenários de fundo da história.

Zhang Ziyi dá vida a Chiyo com elegância e carisma, mas são as coadjuvantes que realmente brilham na tela. Gong Li, estrela do cinema chinês, e Michelle Yeoh se afastam de seus papéis costumeiros de ação e oferecem performances cativantes e dramáticas. Yeoh, em uma atuação repleta de nuances, demonstra que merecia reconhecimento nas temporadas de premiação muito antes de “Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo”.

Como em outros filmes de Marshall, a parte técnica cria um mundo imersivo que convida os desavisados a procurarem mais sobre essa cultura, e, com razão, o aspecto técnico agradou à Academia muito mais do que questões narrativas ou de atuação. Colleen Atwood, grande colaboradora de Rob, assinou os figurinos e levou o Oscar por sua contribuição.

“Memórias de uma Gueixa” não é o filme ideal para os entusiastas do continente asiático, mas ainda assim se sustenta com uma história cativante e sóbria, performances únicas e uma atmosfera imersiva.

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