Walt Disney foi um visionário no ramo cinematográfico, realizando ousadas experiências que envolveram avanços tecnológicos e a animação entre as décadas de 1920 e 1960. Um de seus últimos sucessos, antes de falecer em 1966, vítima de câncer de pulmão, foi o encantador musical “Mary Poppins”. A história por trás do filme, que catapultou a carreira de Julie Andrews, é tão cativante quanto o próprio longa, mostrando como o público pode começar a valorizar as pequenas coisas da vida.

O livro de P.L. Travers levou cerca de vinte anos para chegar às telas do cinema, pois a autora se recusava a ceder os direitos ao titã do entretenimento americano. Quando finalmente o fez, a rígida australiana tornou-se consultora da produção. A história desse processo foi dramatizada no excelente filme “Saving Mr. Banks”, com Emma Thompson e Tom Hanks.

Ambientado na Londres Eduardiana, o magnum opus de Disney foca na família Banks: dois pais ocupados e duas crianças impossíveis. Tudo muda quando uma governanta elegante e mágica chega à porta da família, levando Michael e Jane a aventuras encantadas pelas ruas e telhados de Londres. Durante essa jornada, conhecemos novos mundos, personagens coloridos e mensagens sensíveis. Enquanto a babá de Travers era mais estoica e inflexível, a versão dos estúdios Disney acrescenta um instinto materno a essa figura praticamente perfeita em todos os sentidos.

Um musical familiar e animado, “Mary Poppins” não decepciona, sendo banhado pelo melhor tipo de “Charme Disney”, promovendo momentos de reflexão em meio a músicas cativantes e personagens memoráveis. Ao trazer uma interpretação diferente da figura mágica criada por P.L. Travers, Julie Andrews fez sua estreia no cinema, iniciando uma carreira brilhante que perdura até hoje. Dick Van Dyke, Ed Wynn, David Tomlinson e Glynis Johns complementam o elenco, trazendo à vida caricaturas únicas de diferentes figuras do início do século XX.

As músicas dos irmãos Robert e Richard Sherman continuam entre as mais queridas do catálogo do estúdio, mesmo com sessenta anos separando a Disney de Walt e o império comandado por Bob Iger. A voz melódica de Julie Andrews, a animação vibrante de Dick Van Dyke e as letras inesquecíveis fazem com que as músicas saltem da tela, encantando o público.

O filme também foi pioneiro por suas inovações técnicas, como as cenas em que animação e live-action se misturavam em efeitos surpreendentes para a época, além de utilizar extensões de objetos que impressionaram os atores mirins. Assim como “O Mágico de Oz” inspirou o gênero de fantasia de maneira clássica, “Mary Poppins” serviu como base para uma nova interpretação do gênero, com um toque moderno e sem medo de ser cartunesco.

Embora normalmente associemos o filme à sua protagonista encantada ou ao multitalentoso Bert, o alicerce do filme é a relação de George Banks com seu trabalho e sua família. Enquanto todos ao seu redor cedem à magia de Poppins, o pragmatismo de Banks permanece inabalável até o clímax do longa. Quando ele é confrontado sobre como seu trabalho afetou sua vida pessoal, o público chega à conclusão principal do filme: Mary Poppins veio à Rua das Cerejeiras para salvar o pai, não as crianças.

Para o desespero de P.L. Travers, “Mary Poppins” tornou-se um fenômeno e a protagonista foi catapultada para uma das figuras mais reconhecíveis da cultura pop, originando musicais e sequências. Uma continuação, “O Retorno de Mary Poppins”, foi lançada em 2018 e procurou caracterizar alguns dos personagens de maneira mais fiel às suas contrapartes literárias. Atualmente, a babá interpretada por Julie Andrews é sinônimo de magia e elegância, sendo referenciada em inúmeras produções.

Sessenta anos se passaram desde o lançamento de “Mary Poppins”, tecendo um legado incrível e maior do que qualquer um dos envolvidos no filme poderia supor. Compartilhando espaço com a Dama da Noite de Audrey Hepburn, “Mary Poppins” continua sendo um clássico influente, sem medo de mostrar a magia nos pequenos momentos do cotidiano e na conexão dos adultos com suas crianças interiores. Com músicas clássicas e personagens inesquecíveis, esse musical da Disney está entre os maiores clássicos do cinema.