“Água, Terra, Fogo, e Ar…
… Há muito tempo, as nações viviam em paz e harmonia. Mas tudo isso mudou,quando a Nação do Fogo atacou. Só o Avatar, domina os quatro elementos e pode detê-los. Mas quando o mundo mais precisa dele, ele desaparece. “
Com essa introdução ao universo, começam os 61 episódios de “Avatar: A Lenda de Aang” (2005-2008), uma animação distribuida pela Nickelodeon. Situado em um mundo mítico, a série não apenas explora valores filosóficos de origem asiática, mas também moldou a forma como produções de fantasia seriam apresentadas a novas gerações, servindo como referência e fonte de inspiração para a construção de mundos. Em 2010, o diretor M. Night Shyamalan tentou adaptar a obra para um longa-metragem, introduzindo alterações substanciais ao compilar vinte episódios da primeira temporada em um filme de duas horas. O resultado, com um enredo superficial e mudanças étnicas em vários personagens, foi amplamente repudiado por fãs e entusiastas do cinema de fantasia.
Mais de uma década depois, a Netflix embarca em sua tentativa de adaptar a icônica série para o formato live-action. A trama acompanha Aang, o último nômade do ar, o único sobrevivente de um terrível massacre, despertado após um século aprisionado em um iceberg. Reconhecido como peça fundamental para encerrar uma brutal guerra, Aang é compelido a assumir seu papel no mundo como o Avatar.
Em contraste ao filme “O Último Mestre do Ar”, que foca no hiper-realismo, a mais recente série do serviço de streaming vermelho é repleta de cores e abraça a fantasia presente em sua contraparte animada, seja por meio de seus fascinantes híbridos ou espíritos incomuns. As quatro nações são ricamente representadas por figurinos e caracterizações detalhadas, conferindo uma identidade única que reflete diversas civilizações reais que serviram de inspiração durante o processo de criação, incluindo monges tibetanos e membros do Japão Imperial.
Em um cenário televisivo em que cada programa de fantasia almeja ser o próximo ‘Game of Thrones’ – seja por meio de violência excessiva ou comédia de menos – a produção fundamentada na visão de DiMartino e Konietzko enfrenta desafios ao tentar condensar elementos de uma temporada completa em apenas oito episódios. Isso resulta na fusão de arcos fundamentais, combinando-os em dois ou três episódios. A narrativa sobrecarregada depende fortemente de explicações fornecidas por meio de monólogos de diversos personagens. A jornada do jovem herói, aspecto tão aclamado no momento de construir e apresentar o mundo, foi reduzida a um compilado visual de momentos icônicos da primeira temporada em busca de deixar a narrativa mais direta e menos infanto-juvenil.
O live-action busca adaptar elementos que ampliam o vasto universo, inspirando-se nos quadrinhos concebidos após o término da série e nos livros do universo escritos por FC Yee. Personagens como o General Iroh, Avatar Kyoshi, Almirante Zhao, Kuruk e Monge Gyatso ganham mais destaque, embora o mesmo não se aplique ao desenvolvimento desses e demais personagens.
O elenco diversificado do ponto de vista étnico gera opiniões divididas: alguns dos atores mais experientes entregam performances convincentes e cativantes, destacando-se Paul Sun-Hyung Lee no papel de Iroh; no entanto, o elenco jovem deixa a desejar em cenas dramáticas, falhando em prender a atenção. Os efeitos especiais se destacam na construção do mundo e na criação de suas criaturas, ao contrário dos diversos momentos em que os dobradores controlam seus elementos.
“Avatar: O Último Mestre do Ar” é uma adaptação mediana para os fãs da franquia, embora possa servir como uma boa introdução para aqueles que desconhecem o vasto mundo, ou alternativa para aqueles que não apreciem animações. “A Lenda de Aang” permanece como a versão superior, mas, após inúmeros contratempos e adaptações que menosprezaram o material original, é bom saber que há uma versão live-action que abraça o mundo fantasioso e suas cores, mesmo com suas imperfeições.