Dodie Smith, uma autora britânica do meio do século XX, criou dálmatas ao longo de sua vida, chegando a ter nove cachorros da raça. Em uma ocasião, uma amiga sugeriu a possibilidade de transformar a pelagem daqueles animais em “fabulosos casacos”. O comentário, embora infeliz, inspirou Smith a escrever “101 Dálmatas”, onde uma socialite sequestra filhotes desses cachorros para transformá-los em uma suntuosa peça de roupa. Esta socialite veio a se tornar uma das vilãs mais icônicas e reconhecidas do cinema moderno.

Cruella De Vil tornou-se imediatamente reconhecível por seu cabelo bicolor, comportamento excêntrico e personalidade bombástica. Na noveleta de Smith, a vilã é a última herdeira de uma influente família inglesa, fascinada por peles, joias e fogo. Vista como a encarnação da futilidade, a personagem é menos perigosa que suas contrapartes cinematográficas e não é tão cautelosa em relação ao seu plano. Vivendo em um mundo com estéticas infernais, De Vil é atraída a aspectos luxuosos que alavancam seu status, desde gatos de raça -cuja as ninhadas ela afogou- a peles raras. Esta versão da vilã se assemelha a uma das criações de Daniel Handler na melancólica saga “Desventuras em Série”: Esme Gigi Genevieve Squalor.

Quando “101 Dálmatas” atravessou o Atlântico e chegou aos estúdios Disney, o desenvolvimento da vilã foi essencial. Com criações como a Rainha Má e Malévola, a Casa do Rato dedicou tempo para desenvolver uma de suas primeiras antagonistas modernas. Marc Davis foi responsável por transformar a histérica herdeira na socialite que o mundo ama mundialmente. Com o design baseado na diva Tallulah Bankhead e a voz deliciosamente maléfica de Betty Lou Gerson, Cruella representa o glamour dos anos 1960, mostrando as barreiras que o consumismo – e a indústria da moda – estariam dispostos a quebrar.

Alheia à ideia de amaldiçoar princesas ou dominar o mundo, Cruella tem um simples objetivo: ficar fabulosa em um casaco de pele de dálmatas. Seu plano objetivo, a maneira implacável com que o persegue e um design único fizeram com que Cruella De Vil se tornasse uma das antagonistas mais reconhecidas e importantes do cinema.

No live-action, a chance de dar vida à personagem serviu como uma oportunidade para atrizes versáteis inovarem seus currículos com suas próprias interpretações da socialite. A premiada Glenn Close interpretou a estilista de cabelo bicolor em 1996, servindo de inspiração para muitas vilãs de filmes dos anos 2000 . Seguindo os passos de “Malévola” e “Coringa”, o filme “Cruella”, protagonizado por Emma Stone, procurou criar simpatia pela icônica personagem de Dodie Smith, a transformando em uma artista cínica baseada em Vivienne Westwood, com um passado trágico.

Fonte de inspiração para antagonistas glamourosas, Cruella De Vil foi uma das primeiras vilãs propriamente “modernas” e tem sua presença extremamente lembrada,  seja por seu design ou presença. Uma das megeras mais populares do cinema, a “mulher-diabo” impressiona qualquer um, seja como uma célula animada ou interpretada por atrizes premiadas.

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