Em meados da década de 1980, uma sombra disforme pairou sobre o mundo: uma doença fatal que deu origem a uma das epidemias mais letais do século XX, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, mais conhecida como AIDS. Este período crucial na história da saúde pública dos EUA foi marcado não apenas pela disseminação rápida do vírus, mas também por uma resposta que, em muitos aspectos, falhou em abordar eficazmente a crise. Alguns nome s que emergem nessa história são: o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, o aclamado ator Rock Hudson e a ‘Rainha do Pop’ Madonna.

Enquanto a AIDS se alastrava, deixando um rastro de morte, a resposta política inicial foi notavelmente silenciosa. O governo de Ronald Reagan, em particular, foi criticado por sua relutância em reconhecer e abordar a emergência de saúde pública. O presidente, em grande parte, evitou discutir publicamente a AIDS até 1987, quando a epidemia já havia assumido proporções alarmantes. O primeiro caso da doença foi confirmado meses depois da posse do republicano, em 1981.

A falta de ação imediata da administração Reagan teve implicações significativas. A falta de financiamento para pesquisa, prevenção e tratamento contribuiu para a propagação do vírus que atacava, em sua maioria, os indesejados para o governo. A ausência de uma atitude proativa deixou muitos americanos se sentindo negligenciados.

O Estigma da AIDS e a Revelação de Rock Hudson

Enquanto a política vacilava, a comunidade de Hollywood também estava profundamente envolvida na tragédia da AIDS. Um dos eventos mais comoventes e impactantes foi a revelação da condição de saúde do ator Rock Hudson. Em 1985, Hudson, uma das figuras mais reconhecíveis de Hollywood, tornou público que estava lutando contra a AIDS.

Rock Hudson, nascido Roy Harold Scherer Jr. em 17 de novembro de 1925, ganhou fama como galã de cinema nas décadas de 1950 e 1960. Seu magnetismo e talento o transformaram em uma estrela popular. A saída do armário de Hudson e sua eventual morte deram à doença um rosto reconhecível para o povo americano, mesmo que a mesma já fosse um empecilho na vida de inúmeros americanos da época.

Hudson e a família Reagan não eram estranhos um para o outro: eram amigos desde a época que Ronald era ator, nas décadas de 1940,50 e 60. Opositores e apoiadores do presidente acreditaram que a notícia de um amigo infectado pela doença tão fatal faria com que o ‘grande comunicador’ abordasse sobre a crise de maneira mais aberta e direta, o que o político não o fez.

A revelação de Hudson foi um divisor de águas em Hollywood e na América da época, desafiando o tabu que cercava a doença na época. Infelizmente, Hudson faleceu pouco depois de fazer sua condição conhecida, destacando a necessidade urgente de conscientização, compaixão e ação concreta.

Mas e Madonna…?

A cantora Madonna atingiu seu ápice na década de 80, tendo a comunidade LGBT+ como um dos pilares para seu sucesso e inspiração. Sempre polêmica, a artista foi uma crítica aberta à política materialista de Ronald Reagan, algo que a mesma satirizou no clipe musical de seu Hit ‘Material Girl’.

Em relação à AIDS, Madonna perdeu amigos e colegas de trabalho para a doença e batia de frente com as declarações – ou falta delas – da chapa presidencial Reagan-Bush. Em seu polêmico álbum ‘Like a Prayer’, foram anexados folhetins com métodos de proteção e tratamento para a doença.

Em seus shows, Madonna projetava mensagens a favor de Sexo seguro e imagens de duas figuras da causa durante apresentações satíricas de ‘Papa Don’t Preach’: além de imagens de Ronald Reagan, figuras do Papa João Paulo II eram apresentadas em suas performances. O Pontífice, além de excomungar a cantora duas vezes, condenou o uso de preservativos como método de proteção contra a doença.

Em sua turnê mais recente, a Rainha do Pop costuma separar um momento da noite para homenagear aqueles que foram perdidos para a doença, sejam as vítimas famosas ou não.

À medida que olhamos para trás, é crucial aprender com os erros do passado. A resposta inicial à epidemia de AIDS revelou falhas profundas em níveis políticos e sociais da América de Reagan. No entanto, também inspirou movimentos e organizações dedicados à conscientização, pesquisa e apoio aos afetados. Embora o republicano seja lembrado como um dos maiores políticos dos EUA, a maneira que o mesmo agiu em relação ao controle  de crise em relação à epidemia da AIDS é vista como uma das maiores manchas de sua carreira

Este período infeliz na história da saúde pública mostra que a negligência e o silêncio podem ser tão devastadores quanto a própria epidemia. Ronald Reagan, Rock Hudson, Madonna e a crise da AIDS representam um capítulo marcante da história americana que afetou drasticamente alas culturais do mundo.