Acho que não chega a ser novidade pra ninguém que sou fã de RuPaul’s Drag Race, porém de um tempo pra cá minha vontade de assistir ao programa e comentar cada episódio foram se tornando cada vez menores, e hoje eu vim contar o porquê.

Vou começar frisando que essa é a minha opinião e meu ponto de vista do que o reality se tornou, então não pretendo ofender ninguém e muito menos diminuir todo o impacto cultural que esse programa tem na mídia.

Eu acho o mundo drag algo maravilhoso, pois ele explora todo um leque artístico que por muitos anos se manteve escondido no submundo LGBT, então ver que esse tipo de arte chegou ao mainstream me deixa muito feliz porque dá a chance ao mundo de conhecer e explorar esse meio. Entretanto, a forma que o reality apresenta para o telespectador o que é drag já chega a ser algo problemático, pois isso mostra que essa arte chegou a mídia de forma segmentada.

O que eu quero dizer é: DRAG NÃO É SÓ FEMINILIDADE E MUITO MENOS FEITO APENAS POR HOMENS. Tá tudo bem você querer se montar, independente do seu gênero e orientação sexual, o problema em si é o fato do programa ignorar completamente isso e colocar uma regra dentro desse meio na qual é pré-requisito queens que esbanjem a feminilidade e que não saiam do padrão de beleza estabelecido por RuPaul Charles.

Sem contar outros aspectos como a transfobia envolvida dentro da seleção de queens para o programa, onde no contrato proíbe participantes do gênero feminino, problema esse que obrigou queens que já estavam em processo de transição a interromper o tratamento, usar seu dead name e a aparência masculina para poder ingressar dentro do show, tudo isso pra ter uma chance de mostrar sua arte para o mundo. Ah, também temos termos misóginos usados dentro do programa (por exemplo “fish”, que faz  referência a feminilidade de uma queen), racismo escancarado e a criação de narrativas terríveis pela edição para vilanizar ou santificar uma participante.

Confesso que, por causa da visão do programa, eu achava que o conceito de drag era simplesmente a inversão de imagem de gênero através da arte, mas vai muito além disso! Um exemplo que posso usar que já foi citado no programa (e provavelmente bem mal interpretado, porque é Drag Race) é o artista Leigh Bowery, onde o ato de fazer drag criando conceitos novos a partir da androginia era sua marca registrada.

Por mais que exista o argumento de que queens como Sharon Needles e Yvie Odly foram coroadas mesmo sendo “out of the box”, elas não chegam nem aos pés das queens apresentadas em Dragula, tanto que o vencedor da última temporada do mesmo foi um drag king (Landon Cider, maravilhoso).

Em resumo: o programa conseguiu trazer sim a cultura drag para o mainstream, mas apenas uma versão distorcida desse meio artístico, eliminando todo um espectro de artistas incríveis e tirando um espaço que deveria ser para todos.

Eu só assisti os primeiros quatro episódios da décima segunda temporada, e acompanhei resto pelo reddit, amigos no twitter e só. Não tenho mais paciência para o show e se eu quiser saber de algo, simplesmente consulto os spoilers do mesmo. Pra mim Drag Race é um desserviço a sociedade já fazem alguns anos, mas só consegui enxergar isso quando fui pesquisar mais afundo. Irei linkar abaixo um vídeo incrível de uma drag brasileira chamada DaCota Monteiro onde ela explica o ponto de vista dela em relação ao programa, na qual acho extremamente fundamental pra você que é fã.

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