Pessoas ricas e o desespero por aceitação definem a narrativa que Saltburn (2023) entrega para os espectadores. O filme escrito, dirigido e co-produzido por Emerald Fennell aborda um fascinante mundo da aristocracia britânica através do olhar de um outsider que almeja de todas as formas fazer parte daquela fantasia neomedieval de luxúria, dinheiro e glamour durante os anos de 2006 a 2007.

O filme acompanha a história de Oliver Quick (Barry Keoghan), um calouro da universidade de Oxford que, ao se ver em uma realidade guiada por dinheiro em meio aos filhos da aristocracia britânica, se vê em uma posição de garantir aceitação a todo custo daquelas pessoas. Em meio a essa sede por ser parte de algo maior, Oliver coloca o alvo principal na cabeça de Felix Catton (Jacob Elordi), herdeiro da família Catton e residente do paraíso chamado Saltburn. Sua prévia fascinação acaba se tornando uma paixão que nutre sua obsessão pelo status.

Em linhas gerais, o filme aborda de forma sarcástica a personalidade de cada um em Saltburn com a profundidade de um pires, criando um contraste entre nosso protagonista como um pobre coitado que busca fazer parte daquela dinâmica e atenuando as nuances entre os padrões de vida de todos ali envolvidos em comparação a si mesmo. Porém, posso dizer que mesmo com essa rasa perspectiva de personalidade dos herdeiros de Saltburn, chega a ser um deleite observar o quão mesquinhos e cruéis eles podem ser por conta de seu alto poder aquisitivo e status. O prêmio de atuação esplêndida vai para Rosamund Pike, na qual interpreta Elspeth Catton, mãe de Felix e Lady de Saltburn, pois ela entrega tudo que se propõe e mostra o quão patético pode ser a riqueza e o quão rápido as pessoas são obrigadas a aceitar certos preconceitos por conta do alto poder aquisitivo.

O filme editado para uma resolução 4:3 e com uma estética única nos transporta para meados dos anos 2000 de forma sutil e graciosa, explorando cada arquétipo da narrativa e entregando o enredo de forma estratégica para o espectador, além de agarrar os detalhes para discernimento da trama em geral. A genialidade em entregar um roteiro que subverte tudo que imaginamos se torna a chave para apreciar o filme em sua forma nua e crua (e coloca nua e crua nisso).

Recheado de momentos que causam desconforto e até mesmo aversão, o filme foi feito para chocar o público de todas as formas possíveis, porém tendo um contexto extremamente plausível para esse tipo de abordagem. Saltburn não é um filme para quem quer se divertir e desligar da realidade, mas sim um filme para quem tem estômago. pois enxergar o sadismo e a crueldade humana em sua forma mais glamourizada sendo exposta através de atos hediondos na tela é algo completamente surreal.

Em suma, gostaria de dizer que esse filme vale muito a pena se você estiver disposto a passar por certos traumas midiáticos durante o processo que é assistir ao longa. Em meio a uma cinegrafia estonteante e um design produção de tirar o fôlego, posso dizer que o sentimento que encerra essa jornada é um gosto bem agridoce na boca. Digamos que tem um assassinato na pista de dança, mas é melhor você não acabar com a onda e dançar no ritmo da música com esse pessoal.

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