Em 2013, James Wan marcou o cinema de terror mais uma vez. Com o grande sucesso de crítica e bilheteria, era evidente que a Warner Bros. não perderia a chance de iniciar uma série de continuações e spin-offs, o que acabou transformando o Universo Invocação do Mal no mais rentável do gênero terror da atualidade. Apesar da recepção morna em boa parte das produções subsequentes, o universo se manteve pela curiosidade do público, fazendo com que “Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio” se tornasse o oitavo filme dessa franquia, que promete se manter inacabável por um bom tempo.

Na volta do casal Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), os acompanhamos no caso de Arne Cheynne Johnson (Ruairi O’Connor), que em 1981 esfaqueou um homem até a morte e alegou estar sendo controlado por forças desconhecidas, sendo o primeiro réu dos Estados Unidos a se defender da acusação de homicídio sob a alegação de possessão demoníaca.

Somos inseridos logo de cara em uma sessão de exorcismo que, apesar de simples, se mostra eficiente em deixar o público assustado com o que lhe aguarda. A ótima trilha sonora de Joseph Bishara e a boa atuação do já famoso ator mirim Jullian Hillard (“A Maldição da Residência Hill”, “WandaVision”) como David Glatzel elevam o poder da sequência. O problema é: se você esperava horror, contente-se com os minutos iniciais, pois nada adiante é tão assustador quanto, nem mesmo os minutos finais.

Aqui, Ed e Lorraine Warren são as principais peças desse quebra-cabeça, diferente do que havíamos visto nos filmes anteriores. No entanto, a falta de destreza no texto transforma o amor entre eles em algo tão caricato que nem as ótimas atuações de Wilson e Farmiga são capazes de salvá-lo da mesmice. É algo sem personalidade, intercalado de forma picotada com o verdadeiro propósito do filme. Arne, que deveria ser o foco aqui, acaba tendo seu conflito ofuscado por conta da investigação do casal, que, ao invés de acrescentar na narrativa, acaba fugindo do real propósito. Sair da zona de conforto – que, apesar de batida, ainda se mostrou eficiente nos dois primeiros títulos – acaba ferindo a criatividade das camadas da trama, além de trazer uma abordagem extremamente genérica para o conflito em que se baseia. A impressão que deixa é que o roteiro até sabe aonde quer chegar, só não sabe qual caminho trilhar. Percebe-se uma narrativa cheia excessos, mas com um conteúdo que deixa a desejar.

A franquia ficou conhecida pela presença marcante de seus antagonistas, trazendo motivações plausíveis para eles dentro do limite de cada história. Com o roteiro questionável deste filme, a ameaça que era constante nos filmes anteriores acaba ficando apagada pela falta de cuidado ao tentarem desenvolvê-la. Conhecer pouco da personagem é importante para a construção, já que a ideia seria fazer com que o público descobrisse os segredos juntamente com os Warren. No entanto, quando as coisas são esclarecidas, não enxergamos um real motivo para tudo aquilo, aumentando o nível de descrença e questionando a veracidade do famoso “baseado em fatos reais” que a franquia faz questão de usar e abusar como propaganda para o público convencional.

James Wan conseguia transformar um roteiro simples em uma produção estilosa, mesmo com pouco. Sua criatividade em lidar com coisas básicas foi responsável por fazer “Invocação do Mal” se tornar a franquia de terror mais famosa da atualidade. Seria injusto apontar um trabalho desastroso na direção de Michael Chaves, já que a qualidade duvidosa do roteiro não o ajudou aqui. No entanto, é fácil enxergar a falta de inventividade dele ao lidar com as câmeras. Ele é um diretor eficiente, mas está longe de ter o charme do pai da franquia.

Apesar de ser inferior aos capítulos anteriores, “Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio” consegue divertir, mesmo com suas tentativas falhas de assustar e sua inconsistência narrativa. É perceptível que a franquia já sofre com uma produtora que deixou de se importar com a qualidade e agora foca em quantidade, já que o nome “Invocação do Mal” se mostra forte desde 2013. Ainda é possível salvar o próximo capítulo, pois restam histórias interessantes do casal Warren, mas evitar o desgaste não será uma tarefa fácil. É importante que o roteiro e a direção do já confirmado quarto filme caiam em mãos mais habilidosas.

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