“Feud”, da Ryan Murphys Production, surgiu em 2017 como uma série antológica com o intuito de recontar conflitos famosos de maneira que introduzisse eventos baseados em fatos reais em, diferente décadas a uma nova geração. Intitulada de “Bette and Joan” e com Susan Sarandon e Jessica Lange, a série recontou a rivalidade entre divas de cinema no set de filmagem de “O Que Teria Acontecido com Baby Jane?” e garantiu que uma parcela da geração conhecesse os segredos da era de ouro de Hollywood. Embora não tenha agradado entusiastas desta época pelas liberdades artísticas tomadas -particularmente a atriz Olivia De Havilland, que tentou processar a emissora aos 101 anos – a série foi um sucesso de crítica.

Durante anos, a produção de uma segunda temporada permaneceu em um limbo: engavetada inúmeras vezes, com planos para recontar a “Guerra dos Gales” entre o Príncipe Charles e Diana, com Rosamund Pike vinculada para interpretar a aristocrata, e a falta de interesse em continuar a narrativa.

Mas, enfim, foi encontrado um conflito para ser representado pelas lentes da FX: o embate entre o autor Truman Capote e a elite nova-iorquina.

Na década de 1960, Truman Capote é amigo e confidente de um grupo de socialites intitulado “As Cisnes”, no coração da alta sociedade de Nova York. Sua vida no círculo social de elegantes herdeiras é posta à prova quando um dos capítulos de seu livro mais recente é publicado, revelando segredos sórdidos e uma percepção afetada e maldosa de suas vidas. Vingativas e traídas, As Cisnes procuram garantir que a vida que Truman conhecia não passe de uma lembrança. 

Baseado no escândalo causado pela indelicadeza do autor de “A Bonequinha de Luxo” com a elite, “Capote vs The Swans” trata da superficialidade e manipulação nas amizades. Além de revelar a escuridão dos poderosos quando contrariados, a série mostra quão frágil pode ser uma posição social e o que leva à ascensão ou queda da mesma. Tópicos como etarismo, discriminação, lealdade, amizade e a distinção entre ficção e realidade servem como alicerce narrativo da produção, que mergulha o espectador na glamourosa e cintilante Nova York e seu paralelo decadente.

Embora não possua a mesma estética quase cartunesca de “Bette and Joan”, “Capote and The Swans” não falha em apresentar um mundo moralmente duvidoso e figuras vingativas adornadas com pérolas. A relação de “gato e rato” de Truman com o mundo ao seu redor revela o vazio da vida de um dos autores mais célebres do século XX. A decisão de incluir um episódio totalmente em preto e branco e com imagens que remetem ao cinema surrealista ao longo da transmissão faz com que a série se diferencie da sua antecessora, traçando uma distinção entre o brilho da sociedade nova-iorquina e o da era de ouro de Hollywood.

Tom Hollander entrega uma performance caricata de Truman Capote, mas se encaixa perfeitamente com a persona conhecida do autor. Nomes como Demi Moore, Naomi Watts e Diane Lane interpretam algumas das “Cisnes de Capote”, trazendo elegância e fatalidade a figuras mitológicas de Manhattan.

A segunda temporada de “Feud” pode ter demorado para sair do papel, mas trouxe uma história cativante e desconhecida por muitos. A relação de Capote e suas socialites ganha luz do dia mais uma vez, enquanto é apresentada a uma geração completamente alheia a tal conflito. Ainda é incerto se a “Canção do Cisne” de “Feud” será sobre Truman, mas, caso seja, será um fim elegante para uma série antológica diferente. 

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