A rivalidade entre Bette Davis e Joan Crawford, duas das maiores divas da Hollywood Clássica, tem sido tema de documentários, ficções, livros e diversas obras que exploram as disputas entre essas duas atrizes premiadas. Entre mitos e fatos, as vidas das duas artistas se entrelaçaram quando desempenharam papéis de irmãs rivais em “O que teria acontecido com Baby Jane?”, filme que marcou o início do movimento “Hagsploitation”, no qual atrizes anteriormente graciosas interpretavam personagens lunáticas, instáveis e perigosas.

Baseado no livro homônimo de Henry Farrell e dirigido por Robert Aldrich, este thriller psicológico acompanha Jane Hudson, uma ex-estrela mirim alcoólatra, agora relegada ao papel de cuidadora de sua irmã mais velha paraplégica, Blanche. Ambas atrizes em extremos diferentes de sucesso durante a Era de Ouro, as irmãs encontram-se isoladas em uma mansão suntuosa e decadente após um trágico acidente. Jane, presa à memória de sua infância gloriosa e incapaz de superar o ressentimento por sua irmã, transforma a já limitada vida de Blanche em um inferno na Terra, enquanto tenta reviver seus dias no vaudeville.

O filme é um retrato da inveja e maldade, sem temor em chocar para evidenciar seus pontos, desde ratos servidos em bandejas de prata até tortura entre irmãs. A incapacidade de perdoar ou abandonar o passado, frequentemente abordada em outras narrativas, é apresentada de maneira crua em um mundo – literalmente – sem cor. Indivíduos como “Baby Jane”, embora a caracterização de Bette Davis se concentre no caricato, podem revelar-se extremamente letais.

A envolvente e claustrofóbica performance de Davis e Crawford é o que captura a atenção do espectador desde o primeiro momento em que as atrizes aparecem em tela. Bette, indicada ao Oscar de melhor atriz por sua interpretação como Baby Jane, se transforma nesta figura caricata e infeliz, enquanto Joan mantém uma atuação comedida que se equilibra perfeitamente com sua companheira de tela explosiva. O filme marcou o início da carreira de Victor Buono no papel do instrutor de piano, Edwin Flagg.

Os bastidores desse filme foram como uma zona de guerra, com a rivalidade entre as duas divas amplificada pelas colunistas de fofoca Hedda Hopper e Louella Parson. Em várias ocasiões, Joan Crawford afirmou que os abusos que enfrentava no set eram genuínos, enquanto Bette Davis alegava que sua coadjuvante colocava pesos extras em seus bolsos para dificultar as cenas em que Jane precisava manusear Blanche. No final das contas, o único filme em que as duas divas compartilharam a tela foi um sucesso tanto de crítica quanto de bilheteria.

“Baby Jane” acabou por dar origem a um gênero de filmes de terror, onde talentosas atrizes recebiam uma segunda chance após o prazo de validade estipulado por Hollywood. Contando histórias de mulheres histéricas, instáveis e com bússolas morais questionáveis, os filmes de ‘Hagsploitation’ tentaram imitar a fórmula estabelecida pelo filme de 1962, o que frequentemente resultou em erros e fracassos de bilheteria.

Com uma história fascinante e melancólica, um elenco principal de peso e bastidores tão intrigantes quanto o próprio filme, “O que teria acontecido com Baby Jane?” é um cativante thriller psicológico que inspirou diversas atrizes e projetos, alem de ser uma iconica inspiração para Drags Queens. As performances apresentadas neste filme são evidências da versatilidade das atrizes principais, mostrando que os quarenta anos não precisam marcar o fim de carreiras.

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