No filme de Darren Aronofsky, “Cisne Negro”, somos levados a seguir a jornada da bailarina Nina Sawers, cuja essência é completamente consumida enquanto se prepara para interpretar a protagonista no balé “O Lago dos Cisnes”. A personagem, que garantiu a Natalie Portman o Oscar de Melhor Atriz em 2011, é considerada uma representação contemporânea do arquétipo comum conhecido como o ‘Artista Obcecado’.

Narrativas centradas nesse tipo de obsessão existiam muito antes do filme de Aronofsky. Em “Sapatinhos Vermelhos” (1948), acompanhamos a bailarina Victoria Page, dividida entre o amor e sua paixão pela dança. Já em “Sunset Boulevard”, Norma Desmond, imersa em sua constante obsessão por carreira e fama, se posiciona como uma precursora desse arquétipo, encontrando-se completamente deslocada da realidade.

Produções que abordam a obsessão artística destacam as incansáveis horas dedicadas ao aprimoramento da arte. Seja em “Cisne Negro”, centrado no balé, “Whiplash”, enfocando a percussão, ou “O Gambito da Rainha”, explorando o xadrez, entre outros exemplos. No entanto, essas narrativas, marcadas por horas de ensaios/treinos e momentos de tensão, frequentemente colocam o protagonista prodígio em um ambiente tóxico e abusivo. Nesse contexto, seus talentos são testados por uma figura de autoridade, seja um diretor artístico em busca da Rainha dos Cisnes ideal ou um instrutor de jazz, interpretado por J.K. Simmons em uma performance premiada. O medo constante enfrentado pelo obcecado é a ameaça iminente de ser substituído por alguém considerado melhor, adicionando mais peso a uma figura já instável.

Em obras como “Cisne Negro”, “Eu, Tonya” e “O Gambito da Rainha”, a prodígio é levada ao extremo quando, diante de adversidades, desencadeia um ciclo de comportamentos autodestrutivos. Em contraste com a previsibilidade e segurança inicialmente apresentadas, a personagem passa a adotar uma postura errática, entregando-se a prazeres carnais ou se isolando de entes queridos. Em “Cisne Negro”, os comportamentos erráticos de Nina contrastam com a figura inicialmente virginal e pura, dando espaço à criatura que empresta seu nome ao filme.

As narrativas dessa demografia artística frequentemente se desdobram em dois caminhos principais: a completa corrupção e suas consequências ou a libertação das obsessões. Quando corrompido, o protagonista segue por um caminho sem retorno, sendo consumido por sua arte. No ápice de “Cisne Negro”, Nina incorpora Odile em uma performance arrebatadora, mas a um custo significativo. Já na libertação de hábitos autodestrutivos e obsessões, o artista atinge a perfeição e o respeito de seus superiores sem sacrificar sua essência ou integridade, como evidenciado nas cenas finais de “Whiplash” e “O Gambito da Rainha”.

Quando não colocado como o conflito central do filme, esse arquétipo desempenha o papel de desenvolvimento principal para diversas personagens, revelando como as consequências de seus erros podem afetar a arte à qual são dedicadas ou influenciar as relações interpessoais dos artistas. Em filmes biográficos, como “Eu, Tonya” e o mais recente “Maestro”, a narrativa do “artista obcecado” geralmente é equilibrada com as relações conjugais dos protagonistas e momentos históricos cruciais em suas carreiras.

Em Hollywood, um cenário propício para artistas obcecados, narrativas como essas são incrivelmente comuns, representando uma era centrada no perfeccionismo e nos detalhes, onde sonhos e desejos são sacrificados em prol da arte. Frequentemente, o desfecho trágico em filmes relacionados a “artistas obcecados” busca enfatizar que a busca pela perfeição tem seu preço e, quando não equilibrada adequadamente, pode ser fatal.