No ano de 1990, a cantora Madonna entra em um palco inspirado no clássico expressionista “Metropolis”, pronta para iniciar sua turnê Blond Ambition. Durante a performance de seu clássico “Express Yourself”, a artista retira seu blazer risca-de-giz para revelar um corset afiado. O figurino, desenhado por Jean Paul Gaultier, tornou-se um dos visuais mais icônicos da performer e marcou o início de uma parceria entre artistas não convencionais.

A trajetória de Gaultier deu origem a uma das marcas mais esteticamente ousadas e um nome associado ao provocativo, sempre se reinventando e buscando aderir às ideias de diversidade e inclusão. Embora já aposentado e com seu nome ligado a fragrâncias em embalagens com subtextos provocativos, o estilista não deixa de servir de inspiração para artistas excêntricos.

Natural de um subúrbio parisiense e apaixonado por moda desde cedo, o jovem Jean Paul chamou a atenção do estilista Pierre Cardin com seus esboços e foi contratado como seu assistente. Após trabalhar para Cardin e Jacques Esterel e ter tido a primeira dama das Filipinas, Imelda Marcos como uma de suas clientes , decidiu desenvolver sua primeira coleção, financiada por amigos e familiares.

Com um início modesto e característico em 1976, levaria seis anos para que Gaultier estabelecesse uma marca e seus designs fossem produzidos em massa. Nesse período, recebeu o apelido de “l’enfant terrible” devido à sua tendência de desafiar as visões da moda da época.

Seus designs pioneiros, surrealistas e não convencionais chocaram e chamaram a atenção por suas criações andróginas e minuciosamente focadas em silhuetas. Desde jaquetas de couro combinadas com vestidos de tecidos leves até referências de inversão de papeis de gênero, Jean estava muito à frente de seu tempo em seus desenhos únicos e provocativos.

Em 1992, Gaultier lançou sua linha de perfumes, contendo fragrâncias tropicais em frascos com formato de bustos. Tanto a popularidade das fragrâncias quanto a singularidade de seus recipientes chamaram a atenção do público. Em 1997, o estilista francês lançou sua primeira coleção de alta costura, ampliando consideravelmente seu círculo de clientes para incluir socialites e celebridades.

Naomi Campbell vestindo um modelito Gaultier na coleção de 1997/1998

Em 1999, a marca Hermès anunciou a compra de 35% de participação na Casa de Gaultier, o que ajudou na expansão da marca na Ásia e no Oriente Médio. De 2003 a 2010, Jean Paul serviu como diretor criativo da marca, proporcionando um imenso sucesso. Após sua saída da Hermès, o estilista priorizou sua própria marca e concentrou-se em sua linha de alta costura até o anúncio de sua aposentadoria em 2020.

O francês também atuou como figurinista em vários filmes, incluindo “O Quinto Elemento” (1997), que exibiu seu surrealismo característico, e “O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante” (1989). Pedro Almodóvar foi um diretor com quem contribuiu frequentemente, servindo como figurinista dos filmes “Kika” (1994), “Má Educação” (2004) e “A Pele que Habito” (2011).

As contribuições e parcerias entre Gaultier e Madonna durante suas turnês ao longo dos anos marcaram a carreira de ambos: a cantora usava figurinos únicos, vinculando-os à sua iconografia, enquanto o estilista tinha uma das estrelas mais populares do mundo à disposição. Jean Paul também vestiu Marion Cotillard, Kylie Minogue, Lady Gaga, Rihanna, Marilyn Manson, Tupac, entre outros.

Atualmente, a marca de Jean Paul Gaultier é mais associada ao seu visual excêntrico, valor estético e vínculo com diferentes celebridades. No entanto, é necessário lembrar que os desenhos do estilista francês serviram como precursora da moda andrógina, com designs sensuais e provocantes, sempre procurando desafiar convenções tradicionais e causar comoção, seja em uma turnê de Madonna ou vestindo a primeira atriz francesa a ganhar o Oscar de Melhor Atriz.

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