Uma figura com flores no cabelo e uma monocelha sobre os olhos, Frida Kahlo é uma das artistas mais icônicas e lembradas do século XX, deixando um legado duradouro que vai além de suas pinturas surrealistas e marcou profundamente a cultura mexicana. Kahlo, a partir de experiências pessoais, usou a arte para revolucionar e desafiar as normas culturais de sua época, mostrando-se incrivelmente política e à frente de seu tempo.
A vida de Frida foi marcada por desafios desde cedo, sendo sobrevivente de poliomielite aguda na infância, doença que lhe deixou inúmeras sequelas durante a juventude. Aos dezoito anos, Kahlo sofreu um grave acidente de ônibus, tendo metade inferior de seu corpo atravessada por um longo pedaço de metal, o que veio a impossibilitar qualquer gestação viável durante sua vida. Foi durante a árdua recuperação deste acidente que Frida começou a pintar, como uma alternativa para passar o tempo.
Em 1928, aos 21 anos, Frida conheceu seu futuro marido, o pintor Diego Rivera, que na época tinha 42 anos. O relacionamento tumultuado de Frida com Rivera desempenhou um papel fundamental em sua vida e, consequentemente, em sua arte. Através de suas pinturas, ela capturou as intensas emoções que permeavam sua vida amorosa e as inúmeras infidelidades cometidas pelo marido, inclusive com sua irmã Cristina.
Mesmo profundamente afetada pelas traições de Diego, Frida se tornou notoriamente conhecida por seus casos extraconjugais. Bissexual, ela se envolveu com inúmeros homens e mulheres ao longo de sua vida, existindo rumores de que as artistas Chavela Vargas e Josephine Baker compartilharam a cama com Frida, assim como inúmeras outras amantes. Mesmo com seus altos e baixos, o casal Kahlo-Rivera permaneceu unido, após uma breve separação, até a morte da artista em 1954.
Kahlo era uma figura extremamente política, considerando-se uma comunista trotskista ferrenha depois de anos no Partido Comunista Mexicano e incorporando a política em sua vida pessoal e arte. Antes de aderir ao stalinismo, como muitos comunistas ao redor do mundo, Kahlo (e Diego) desempenhou um papel fundamental no exílio de Leon Trotsky da URSS. Frida e Leon tiveram um romance de seis meses durante sua estadia no México. Quando Trotsky foi assassinado em 1940 a mando de Stalin, a artista foi interrogada e presa como uma das suspeitas.
Durante a década de 1940/1950, a saúde de Frida declinou rapidamente após uma vida de superação de obstáculos, tornando-se incapaz de deixar a cama e tendo sua perna esquerda amputada poucos meses antes de sua morte. Mesmo definhando, Kahlo não parou de se expressar, pintando até o fim e participando – embora acamada – de sua primeira exposição.
Em 13 de julho de 1954, Frida Kahlo faleceu aos 47 anos devido a uma Embolia Pulmonar, embora rumores de suicídio ainda permeiem até hoje. Coberto pela bandeira vermelha com a foice e o martelo, o corpo de Frida foi cremado após um funeral modesto, com a presença de amigos, família e admiradores. Diego Rivera afirmou que o dia da morte de Frida foi o mais triste de sua vida.
Suas obras abraçavam elementos surrealistas, naturalistas e detinham grandes aspectos de sua expressão latina. Seu amor e apreço pela cultura mexicana eram transmitidos em suas artes, assim como suas tentativas de explorar seu corpo debilitado. A presença de elementos míticos em suas obras está entre as primeiras alusões ao gênero cultural conhecido como “Realismo Fantástico”.
Frida foi um marco na quebra de padrões de gênero na América Latina, desafiando normas de feminilidade pré-estabelecidas para a época. Sua imagem foi uma das mais replicadas durante os séculos XX e XXI, sendo sua figura pessoal normalmente mais lembrada do que a artística. Em 2002, Hollywood lançou uma cinebiografia de Kahlo, com Salma Hayek e Alfred Molina como protagonistas.
Embora tenha enfrentado adversidades, Frida Kahlo deixou um impacto duradouro no cenário artístico mexicano. Suas contribuições à arte surrealista e seu papel como uma figura feminista inspiradora continuam a influenciar artistas contemporâneos e a quebrar barreiras. Sua vida, embora trágica, é abraçada e buscada por legiões de admiradores de seu trabalho.