Os Jogos Olímpicos servem como um cenário único no mundo moderno de maneira paralela ao seu intuito clássico: nações em momentos instáveis recebem dignitários de todo o mundo em uma cerimônia de abertura, um evento que normalmente marca o tom das semanas seguintes. Para o bem ou para o mal, a cerimônia ajuda a definir a soberania e a estética de estabilidade do país sede.

A Cerimônia de Abertura de 2024, em uma Paris recém-saída das eleições, foi uma chance desperdiçada. A capital francesa, um dos maiores berços culturais do mundo, apresentou um compilado de homenagens medíocres, performances fragmentadas e metalinguagens polêmicas. Nem mesmo o retorno de Celine Dion, em uma performance na Torre Eiffel, foi suficiente para salvar a cerimônia.

 A honra de sediar os Jogos Olímpicos carrega diferentes símbolos intrapessoais e ideológicos: Quem não sabe da historica vitória de Jesse Owens, um americano negro que humilhou o Führer e sua ideologia na Berlim nazista em 1936? Os boicotes nos Jogos de Moscou e Los Angeles refletiram a frieza do final da Guerra Fria. Foi a partir desses dois últimos que o conceito das Aberturas Olímpicas começou a marcar as gerações Y e Z.

Os Jogos na Rússia de Brezhnev e na América de Reagan se mostraram tão dissonantes ideologicamente, mas cada um foi um marco cultural à sua maneira, como no momento em que o mascote Misha chora ao fim da cerimônia de encerramento. Os Jogos dos EUA e da URSS reacenderam o aspecto político, enquanto os de Sydney e Atenas preservaram o ideal cultural e histórico de cada país.

Durante cerca de três horas, as Aberturas Olímpicas têm o intuito de compartilhar com o mundo uma cultura em particular, trazendo grandiosidade. Pequim, Londres e Rio apresentaram figuras fundamentais para o alicerce cultural, a diversidade e os respectivos lugares no mundo. Da sincronia uniforme de Pequim ao caldeirão pop de Londres, cada país procurou trazer um toque especial.

Envoltos em escândalos de corrupção e ocorrendo após o afastamento da então presidente Dilma Rousseff, os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016 foram motivo de piada por anos. A abertura, no entanto, se tornou uma das melhores já registradas. Desde a homenagem ao criador do avião, Santos Dumont, até um momento de destaque para a cultura periférica, a performance no Maracanã apresentou ao mundo a rica cultura do Brasil, silenciando os que duvidavam. Um dos pontos altos da noite foi quando a modelo brasileira Gisele Bündchen atravessou a “maior passarela” de sua vida ao som de “Garota de Ipanema”.

Com um mundo politicamente desbalanceado e se recuperando da pandemia de Covid-19, a abertura das Olimpíadas de Tóquio em 2020 se apoiou no uso de tecnologia de ponta mais do que em qualquer outra coisa, mas manteve o espírito japonês em destaque. A abertura em Paris, sob o governo de Macron, se perdeu em diferentes aspectos, desperdiçando a oportunidade de apresentar ao mundo a riqueza de seu conteúdo, mostrando-se um evento medíocre e sem foco. Um animatrônico de uma Maria Antonieta decapitada e uma apresentação pré-gravada de Lady Gaga estão entre muitos aspectos decepcionantes do evento.

As próximas Olimpiadas, em Los Angeles, podem ser no fim de um segundo mandato de Donald Trump ou de um primeiro governo de Kamala Harris. O tom da cerimônia estaria politicamente carregado com o político em questão que vai assumir a Casa Branca em Novembro deste ano. Ainda é cedo para definir o que podemos esperar dos Estados Unidos, mas o mundo daqui a quatro anos deveria se inspirar na Abertura dos Jogos do Rio de 2016, pois são moldes que respeitam a cultura e a diversidade. 

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