Em junho, é comemorado o mês do Orgulho LGBT+ , em uma lembrança à Revolta de Stonewall em 1969 , suas subsequentes passeatas e o reconhecimento destas minorias segregadas, após uma truculenta ação policial de Nova York. Essa esteve longe de ser última batalha que a Comunidade iria travar. Na década de 80, centenas de milhares de integrantes dela sucumbiram à epidemia da AIDS ; e sofreram com ações governamentais rigorosas. Atualmente muitos países ainda enfrentam campanhas anti-LGBT.
No entanto, muito antes das passeatas de Stonewall, a Comunidade passaria por um momento de desenvolvimento e subsequente provação; este momento seria a década de 30, mais precisamente na República de Weimar .
WEIMAR E OS QUEERS
Após a derrota humilhante na Primeira Grande Guerra, com a dissolução do Império Alemão e a criação de uma nova constituição na cidade de Weimar, a Alemanha se encontrava a beira do colapso, principalmente no aspecto econômico.
Embora semelhante à França e outros países durante a década de 1920, a Alemanha de Weimar se tornou um ponto social e progressista para párias, principalmente pessoas Queers. Berlim se tornou uma das ‘capitais lésbicas’ da Europa, permitindo que mulheres conseguissem viver seus relacionamentos lésbicos mais livremente.
Muitos sexólogos começaram a estudar sobre gays, lésbicas e, embora com várias ressalvas , Trans. Magnus Hirschfeld, um médico e sexólogo, que era judeu e gay, foi um dos pioneiros na busca de direitos para homossexuais. Além dele, outros estudiosos tiveram suas pesquisas apoiados por judeus alemães, e isso serviu como combustível para o antissemitismo já existente na época.
OS QUEERS DE WEIMAR E A ARTE
O estilo de arte mais comum nesse período era o Expressionismo alemão, que encapsula a claustrofobia e caos da sociedade alemã, além de explorar a recente revolução industrial. Filmes como ‘Metropolis’ e o ‘Gabinete do Dr Caligari’ moldaram a cinematografia desse período.
Artistas membros da comunidade LGBT cresceram em popularidade durante a República de Weimar: a estrela de ‘O Gabinete do Dr Caligari’, Conrad Veidt; o diretor FW Murnau e a estrela andrógina de Hollywood, Marlene Dietrich.
A República de Weimar também se popularizou por causa dos cabarés e pelo aumento considerável em direitos dos trabalhadores sexuais. A vida noturna da Berlim de Weimar era divinamente decadente por causa destes estabelecimentos e profissionais.
Nos cabarés, pessoas sexualmente ambíguas faziam críticas mordazes aos conservadores e muitos políticos que subiram ao poder após a queda do Kaiser. Quando Adolf Hitler deu início ao terceiro Reich, parte destes estabelecimentos foram destruídos.
Christopher Isherwood, um escritor britânico abertamente homossexual, passou uma temporada na Berlim de Weimar se aventurando com prostitutas e garotos de programas. Suas histórias seriam transcritas para o livro ‘Adeus, Berlim’, que logo se tornaria a inspiração para o musical ‘Cabaret’.
Homossexuais estavam entre os muitos detidos e executados em Campos de concentração e trabalho forçado. Para serem identificados pelos nazistas, eles usavam triângulos cor de rosa costurados às roupas
LEGADO
Esse período que antecedeu os horrores da Alemanha Nazista ficou conhecido como a primeira Revolução Sexual da era moderna; e embora seja ofuscada por Stonewall, foi tão essencial quanto para o movimento da comunidade LGBT.
A estética sexualmente ambígua deste período da Alemanha inspirou muito artistas que compartilhavam da mesma atitude, como David Bowie e Madonna. Este período também serviu de inspiração para inúmeros filmes como ‘Just a Gigolo’ e ‘Cabaré’.
Com seus altos e baixos, a aceitação que a República de Weimar proporcionou à comunidade LGBT foi algo que historicamente carregaria um peso , sendo a primeira vez que homens gays, lésbicas e trans se sentiriam vistos. É triste imaginar quantas pesquisas, quantos avanços sociais se perderam nas fogueiras arianas que assolaram o país por doze anos.