Em 2024, o mundo se encontra em uma linha tênue entre censura e liberdade de expressão. Ideologias de direita e esquerda se misturam com ações que parecem impossíveis de serem defendidas racionalmente, colocando a humanidade em um cenário paralelo ao de uma das obras mais importantes do século XX. “1984”, de George Orwell, publicado em 1949 e conhecido popularmente como “A Obra que Matou Orwell”, é uma distopia que explora temas como totalitarismo, vigilância, manipulação da informação e perda da individualidade — aspectos que permanecem assustadoramente relevantes nos dias atuais. Orwell escreveu “1984” no pós-Segunda Guerra Mundial, período marcado pela queda de regimes totalitários como o nazismo na Alemanha e a ascensão do stalinismo na União Soviética.

A história se passa na sociedade pós-guerra chamada Oceânia, governada por um Partido totalitário liderado pela enigmática figura do Grande Irmão. A trama acompanha Winston Smith, um trabalhador do Ministério da Verdade, cuja função é reescrever registros históricos para que se alinhem com a propaganda do Partido. Em um mundo onde cada momento e ação são monitorados, Winston começa a questionar o sistema e desenvolve um desejo de rebelião, o que o leva a um perigoso caminho de resistência. A situação se complica ainda mais quando ele se apaixona por uma colega de trabalho.

A sociedade em “1984” é um exemplo extremo de regime totalitário, onde o governo exerce controle absoluto sobre a vida pública e privada. O Partido do Grande Irmão monitora todos os movimentos dos cidadãos por meio de vigilância constante, exemplificada pelas onipresentes “teletelas”, que não podem ser desligadas. O Ministério da Verdade, onde Winston trabalha, representa a manipulação da informação: o Partido altera o passado para controlar o presente e, consequentemente, o futuro. Esse aspecto é refletido na distorção da verdade por partidos políticos na campanha presidencial dos Estados Unidos, como visto na manipulação da narrativa antes da desistência de Joe Biden de concorrer novamente ao cargo.

O conceito de “Big Brother” ou “Grande Irmão” é uma das imagens mais duradouras de “1984”. A ideia de que alguém está sempre observando reflete o medo e a paranoia de viver sob um regime autoritário. O culto à personalidade e a necessidade de “amar, não só obedecer” refletem a ascensão ao culto de políticos — brasileiros e internacionais — em tempos de crise, onde a figura do candidato é endeusada por uma população em busca de salvação. A ideia de um poder que se infiltra em todos os aspectos da vida individual, explorada extensivamente por Michel Foucault, descreve como as sociedades modernas exercem controle e poder sobre os indivíduos, não apenas por meio de instituições coercitivas, mas também por sistemas de conhecimento e discursos que moldam nossa compreensão do mundo.

Winston simboliza a luta pela liberdade individual em uma sociedade opressiva. Sua rebelião, embora pequena e secreta, é uma tentativa de afirmar sua humanidade. Contudo, o livro também explora a inevitável derrota do indivíduo diante do poder esmagador do Estado.

“1984” continua a ser uma obra relevante, especialmente em tempos de crescente vigilância governamental, fake news e manipulação da mídia. O livro é um alerta sobre os perigos do totalitarismo e a importância de proteger a verdade e a liberdade individual. A visão de Orwell de um mundo onde a realidade é distorcida e a liberdade é eliminada serve como um poderoso lembrete dos valores essenciais para a democracia e a dignidade humana

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