Em seus minutos iniciais, já é possível identificar as habilidades por trás da lente de Panah Panahi, que marca aqui a sua estreia como diretor. Filho de Jafar Pahani, nome importante na história do cinema iraniano, Panah mostra que seu pai não hesitou em compartilhar seus talentos. Somos introduzidos à família protagonista à beira de uma estrada, onde assistimos ao primeiro conflito entre eles, que com muita sinceridade e força das interpretações, já nos diz sobre o que podemos esperar.

Contar o que não deve não é a praia de “Pegando a Estrada”. Desde a sinopse, não é fácil desvendar seu propósito. Todas as informações são expostas a partir de diálogos despretensiosos ou discussões cotidianas, que ajudam a favorecer a simplicidade do texto. Acompanhamos conversas comuns durante momentos internos, outra hora, quando enxergamos de dentro para fora, Panahi não se contém em encher a tela com uma fotografia básica, mas que assim como seu roteiro, colabora para aprofundar as relações e os sentimentos de seus protagonistas.

A responsabilidade em desenvolver personagens requer destreza na hora de introduzi-los em um roteiro, e Pahani sabe lidar bem com isso. Tudo é abordado de forma cuidadosa, intensificando aos poucos as relações entre eles. É importante frisar que a abordagem não seria funcional sem um elenco eficiente, e por sorte, talento é o que não falta nos nomes envolvidos na produção. A harmonia contagiante entre eles entrega atuações condizentes à riqueza do material, sempre apresentando camadas que acrescentam ao desenvolvimento narrativo. Conforme os minutos vão passando, conhecemos cada vez mais sobre a família, os motivos dos conflitos vão se revelando e o filme se mostra além de um drama familiar qualquer, dando personalidades interessantes para cada um dos membros.

Em determinados momentos, é comum questionar o tom abordado. A dúvida permeia quando o diretor opta pela suspensão da descrença, até que elas são sanadas de maneira eficiente, excedendo os limites dos significados e encaixando-os novamente em sua proposta de forma extremamente sentimental e coerente. Cada expressão, atitude ou diálogo é importante para a experiência final, que é digna de aplausos. É um filme grande, mas que sabe se esconder através de situações aparentemente irrelevantes para determinados olhos. Toda a construção musical, desde o piano inicial ao momento eufórico e peculiar de seus minutos finais é planejada, cada peça se encaixa e transforma essa simplicidade em algo grandioso e, literalmente, de outro mundo.

Além de todo o primor técnico, o que mais chama atenção em “Pegando a Estrada” é a idolatria das pequenas coisas. Tudo é pequeno, mas feito de forma grandiosa. Cada pedaço tem sentimento, toda linguagem exposta na obra tem algo a acrescentar e em nenhum momento isto é feito de forma risível. É engraçado que, de olhos semiabertos, é fácil enxergar um enredo vazio. Parte do trabalho aqui está em se conectar com aquela família e enxergar beleza em acompanhá-la e conhecê-la. Considerando tamanha eficiência de roteiro e direção, o que nos resta é aguardar projetos futuros de Panah Panahi, além de torcer para uma volta breve.

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