Em 2017, Damien Chazelle se tornou o mais jovem vencedor da categoria de ‘melhor diretor’ na história do Academy Awards. Seu filme, “La La Land”, utilizou elementos dos grandes musicais da Era de Ouro para contar a história de amor de Sebastian e Mia, dois aspirantes a artistas que enfrentam desafios pessoais para realizar seus sonhos. Embora seja um musical relativamente mediano, a assimilação criada entre o longa de 2017 e os musicais clássicos, como “Cantando na Chuva”, demonstra a sensibilidade de Chazelle com esse período. Essa influência é replicada em larga escala em seu filme “Babilônia”.

“Babilônia” nos apresenta uma coletânea de contos dos bastidores de Hollywood nos loucos anos 20. Em uma narrativa frenética e caótica, o filme cria um mundo onde cocaína é sinônimo de açúcar e absinto é sinônimo de água. Em mais de três horas de duração, seguimos artistas em diferentes estágios de suas carreiras: enquanto Nellie Leroy (Margot Robbie) luta para se tornar a estrela que proclama ser, Jack Conrad (Brad Pitt) luta para não cair no esquecimento de Hollywood.

Claramente uma carta de amor aos filmes e um ataque velado ao sistema hollywoodiano instaurado no início dessa arte, “Babilônia” destoa de qualquer trabalho anterior do diretor, nos apresentando um mundo raso e paralelo ao grandioso, sem medo de ser opulento ou abstrato. Margot Robbie, Diego Calva, Brad Pitt e Jean Smart entregam algumas de suas melhores performances enquanto tratam da transição do cinema mudo para o falado. Em papéis coadjuvantes, temos surpresas agradáveis com Tobey Maguire, Li Jun Li e Jovan Adepo.

O filme reconta a transição dos bacanais e tempos promíscuos da década de 1920 para o conservadorismo que iria anteceder a América de Roosevelt, com o racismo ficando cada vez mais escancarado em cena. É um dos muitos projetos que mostram como a beleza imaculada do cinema mudo foi colocada à prova com a chegada da complexa aparelhagem do cinema falado, emprestando muitos aspectos do clássico hollywoodiano “Cantando na Chuva”, referenciado mais de uma vez durante sua duração.

Um dos temas mais importantes trabalhados no filme é o de identidade e assimilação no início de Hollywood. As pessoas que se esculpiam e reprimiam suas verdadeiras identidades encontravam sucesso e prosperidade, enquanto aquelas que eram autênticas normalmente eram podadas e eliminadas assim que começavam a chamar atenção. O apagamento da identidade latina de Manny e as restrições impostas a Nellie LeRoy para que se conformasse são dois dos vários exemplos vistos em tela.

Apesar de tudo, o filme parece ser um projeto de paixão de Chazelle e um tributo à forma como o cinema é feito, em contraste com a máquina incansável que Hollywood se tornou nas últimas décadas. O monólogo de Elinor St. John sobre a imortalidade das telas e a experiência humana de assistir a um filme nos momentos finais do longa servem para explicitar a paixão constante por essa arte.

Mesmo que “Babilônia” não tenha alcançado o sucesso astronômico de seus antecessores, como “Whiplash” e “La La Land”, essa carta de amor ao glamour da era de ouro de Hollywood tem muito mais alma do que muitos projetos feitos pelo mesmo estúdio.

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