A carreira de Tim Burton é marcada por altos e baixos constantes, caracterizada por um estilo único que combina narrativas de párias sociais em diferentes épocas e mundos. Após o fracasso de “Dumbo” e depois do sucesso ao dirigir “Wandinha” para a Netflix, Burton retorna ao cinema com a aguardada sequência de um de seus maiores sucessos: “Os Fantasmas se Divertem”. Enquanto o mundo aguarda ansiosamente a continuação desse clássico das tardes de cinema, revisitamos o filme mais de 35 anos após seu lançamento.

O casal Maitland, interpretado por Alec Baldwin e Geena Davis, morre em um acidente de carro e se veem incapaz de deixar a casa em que viviam. Quando a excêntrica família Deetz se muda para a residência, Adam e Barbara fazem de tudo para recuperar o que consideram seu, desde possuí-los durante um jantar até contratar o bio-exorcista que dá nome ao filme.

O filme é uma das primeiras ocasiões em que o estilo que viria a ser associado a Burton floresce, combinando o gótico e o expressionista com o contemporâneo. Desde silhuetas tortas até ilusões de profundidade, a obra é claramente inspirada no Expressionismo Alemão, com sombras desempenhando um papel essencial na criação da atmosfera ideal. O contraste entre o mundo dos vivos, pacato e suburbano, e um pós-vida repleto de burocracia com visuais de cores vibrantes se revelou uma das interpretações mais interessantes do mundo dos mortos.

A trilha sonora de Danny Elfman e o uso constante de visuais que mesclam expressionismo e surrealismo tornaram o segundo longa-metragem do californiano um marco, introduzindo elementos que seriam recorrentes em suas quatro décadas de carreira como cineasta. O uso de efeitos práticos e figurinos super estilizados são fundamentais para a criação de uma atmosfera macabra e cômica, conferindo aos personagens uma singularidade memorável. As atuações exageradas também contribuem significativamente para a produção: Catherine O’Hara e Winona Ryder, colaboradoras frequentes de Burton, dão vida a personagens caricatas e irresistíveis.

Mas agora, vamos falar sobre a verdadeira razão pela qual o filme é tão querido.

Antes de assumir o manto do Cavaleiro das Trevas, Michael Keaton interpretou o espectro mais caótico do cinema: Beetlejuice (ou “Besouro-Suco”, como é conhecido no Brasil). Com seu cabelo verde e desarrumado, um terno em frangalhos e um libido exacerbado, o personagem se tornou um ícone quase instantâneo, elevando o filme de uma simples comédia a uma das melhores obras de Burton. Apesar das inúmeras tentativas ao longo da década de replicar o sucesso de Beetlejuice, o personagem de Keaton permanece como um dos pilares da filmografia do diretor e uma das razões pelas quais a Warner Bros. escolheu o comediante para a adaptação de Batman.

A partir de 2018, o longa foi adaptado para um musical, com Alex Brightman assumindo o papel do bio-exorcista. Por sua performance, indicada ao Tony de Melhor Ator, Brightman passou a interpretar o personagem em diferentes mídias, sendo considerado o sucessor oficial de Keaton.

“Os Fantasmas Ainda se Divertem”, uma das raras continuações na carreira de Tim Burton, enfrenta o desafio de estar à altura de uma das melhores comédias modernas. Quarenta anos depois, a saga dos Maitlands e Deetzs, assim como o próprio cinema, nunca mais foram os mesmos desde que repetimos certo nome três vezes.

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