Embora “Ainda Estou Aqui” tenha conseguido força em sua campanha para o Oscar de 2025, um filme em especial desponta como favorito para “Melhor Filme Internacional” e outras categorias: a comédia musical “Emilia Perez”, de Jacques Audiard. Assim como o longa de Salles apresenta elementos que agradam à Academia, “Emilia Perez” traz inovações e “primeiros” que o tornam um concorrente promissor nesta temporada de premiações, apesar das controvérsias que o cercam.
A trama gira em torno de Rita Mora, uma advogada mexicana subestimada em seu escritório, que frequentemente trabalha na defesa de clientes influentes. Após convencer o júri da inocência de um cliente acusado de um crime conjugal, Rita é procurada por um poderoso chefe do narcotráfico. Ele oferece uma fortuna em troca de sua ajuda para realizar o sonho de se tornar mulher. Quatro anos depois, Rita reencontra a mafiosa, agora assumindo o nome de Emilia Perez, que busca maneiras de se reconectar com seus filhos e sua ex-esposa
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O filme gerou controvérsias por diversas razões. Uma delas é a percepção de desconexão cultural do diretor com o México, país onde a história se passa. Audiard, da França, chegou a afirmar em entrevistas que já sabia “tudo o que era necessário” sobre o país para dirigir o longa. Além disso, declarações polêmicas das diretoras de elenco e a disseminação de inúmeros estereótipos reforçaram a rejeição da comunidade latina em relação ao longa. A decisão de não filmar cenas no México, tentar santificar membros do narcotráfico e de agendar o lançamento do longa no país apenas após a temporada de premiações também aumentaram as suspeitas sobre a produção.
A narrativa aborda o conflito moral e ético de Emilia ao enfrentar sua antiga vida criminosa e a difícil escolha de se afastar dos filhos para viver sua verdadeira identidade. A atuação de Karla Sofía Gascón, tanto antes quanto depois da transição da personagem, confere uma certa complexidade ao papel, mesmo em meio a situações absurdas. Uma possível indicação ao Oscar de Melhor Atriz representaria um marco histórico para a comunidade trans, mesmo que a representação não agrade tanto a mesma.
O elenco coadjuvante, composto por Zoe Saldana e Selena Gomez, traz contribuições significativas, embora suas interpretações sejam muitas vezes exageradas. Gomez demonstra dedicação ao papel e à carga dramática de sua personagem, mas seu espanhol deixa a desejar em diversos momentos. Já Saldana brilha nas cenas em que aparece como Rita, destacando-se tanto no início simples da personagem quanto em sua parceria com Emilia na busca por um México melhor. Sua performance na cena da dança ao som de “El Mal” promete se tornar memorável.
Sendo um musical, ‘Emilia Perez’ não economiza nas canções. Compostas por Clement Ducol e Camille as músicas aparentam ter sido traduzidas para o espanhol com o uso de inteligência artificial. Apesar disso, os números musicais se destacam pela criatividade, com ângulos de câmera inusitados, danças de grupo inesperadas e coreografias absurdas.
Um filme francês tentando se passar por mexicano, ‘Emilia Perez’ é, em si, uma ironia dramática, recheada de cenários e situações exageradas que está enchendo os olhos de votantes. As atuações variam em intensidade, oscilando entre sutilezas e confrontos explosivos, enquanto o filme constrói uma narrativa que agrada votantes da Academia. Mesmo com o peso dramático de ‘Ainda Estou Aqui’ e a atuação excepcional de Fernanda Torres, ‘Perez’ promete ser um desafio considerável para a produção de Salles nesta temporada de premiações.