Em 2019, Drogon alçou seu último voo, e a luta pelo Trono de Ferro chegou ao fim, deixando um gosto amargo em milhares de espectadores. O controverso final de ‘Game of Thrones’ abriu uma lacuna para os fãs de aventuras fantasiosas, preenchida apenas anos depois com o lançamento de seu derivado, ‘House of the Dragon‘. Um dos fortes candidatos a ocupar o espaço deixado por ‘GOT’ foi ‘His Dark Materials – Fronteiras do Universo’, encerrado na última semana de 2022, após quatro anos de transmissão. Apesar de aclamada pela crítica, a série enfrentou problemas de distribuição, tornando-se uma produção de nicho, mesmo sendo a segunda adaptação do universo de ‘A Bússola de Ouro’.
‘His Dark Materials’ é uma série produzida pela BBC, baseada na trilogia ‘Fronteiras do Universo’, do autor britânico Philip Pullman, que também inspirou o filme ‘A Bússola de Ouro’ (2007). Distribuída pela HBO, a série acompanha Lyra Belacqua, uma menina que se torna a peça central de um conflito entre o Céu e a Humanidade, graças a um objeto misterioso capaz de revelar a verdade. Em um mundo peculiar, Lyra amadurece enquanto enfrenta o Magistério, uma organização teocrática que controla seu universo com punho de ferro. Paralelamente, Will Parry, um adolescente em fuga, se revela a contraparte de Lyra em um outro mundo.
Com paisagens fantásticas habitadas por ursos polares com armaduras de aço, feiticeiras com profecias milenares, elefantes singulares e um conceito no qual a alma humana assume a forma de um animal, ‘His Dark Materials’ explora territórios que “A Bússola de Ouro’ não conseguiu alcançar. A série retrata a hipocrisia de instituições religiosas e os caminhos corruptos trilhados em nome de uma visão distorcida de pureza. Ideias como pecado, prazer e individualidade são amplamente abordadas, enquanto o enigmático “Pó” conecta o humano ao divino. Os daemons, reflexos da alma dos personagens, trazem uma profundidade simbólica que sustenta grande parte da narrativa.
Ao longo da série, deparamos com uma história densa, repleta de personagens bem desenvolvidos, interpretados por um elenco de peso, incluindo Dafne Keen, Ruth Wilson, James McAvoy, Lin-Manuel Miranda, Ruta Gedmintas e Simone Kirby. O elenco de dublagem para as criaturas não humanas é igualmente primoroso, destacando nomes como Helen McCrory (em um de seus últimos trabalhos), Victoria Hamilton, Kit Connor, Sophie Okonedo, Lindsay Duncan, Phoebe Waller-Bridge e Cristela Alonzo.
Entre os destaques está Marisa Coulter, cujo daemon assume a forma de um macaco dourado. Uma das vilãs mais complexas da literatura infantojuvenil, ela ganha ainda mais profundidade na atuação de Ruth Wilson. Sua relação de amor e ódio com seu daemon reflete a instabilidade de sua sociedade, enquanto sua ligação com o Magistério revela um esforço desesperado por poder em um mundo patriarcal. A evolução de Marisa ao longo das três temporadas mostra como a luz pode voltar a um coração obscurecido pela corrupção.
Sendo uma produção de fantasia, o uso de efeitos visuais e práticos é essencial para criar o mundo de ‘His Dark Materials’. Os daemons e os ursos polares foram desenvolvidos com atenção aos detalhes, transmitindo peso, textura e realismo. Mudanças criativas para facilitar a produção de cenas complexas são compreensíveis e contribuem para aumentar a tensão entre os personagens. A direção de arte brilha ao construir mundos distintos, com estéticas únicas, abandonando o estilo steampunk popularizado por ‘A Bússola de Ouro’.
Mais fiel ao legado de Philip Pullman, ‘His Dark Materials – Fronteiras do Universo’tentou herdar o público de ‘Game of Thrones’, mas não alcançou o mesmo impacto. Ainda assim, conquistou uma base de fãs fiel. Explorando temas como escolhas, religião e destino, ‘His Dark Materials’ chegou ao fim, mas suas lições permanecem atemporais.