Propondo uma caminhada lenta e distinta da qual não estamos habituados a ver constantemente no cinema, “Madeira e Água” acompanha a vida de Anke (Anke Bak), uma viúva aposentada que serviu à uma igreja desde sua juventude. Ao finalizar seu propósito, Anke se vê perdida quanto ao seu futuro. Devido a manifestações em Hong Kong, Max, seu filho mais velho, se vê impedido de visitá-la em sua terra natal. A personagem enxerga nisso uma possibilidade de sair de sua zona de conforto e partir em uma viagem em busca do seu autoconhecimento.
A partir do momento em que a história dá seu pontapé e se encontra nas luzes coloridas de uma Hong Kong noturna, sabemos tão pouco quanto Anke. Mesmo que a fotografia e a música contemplativa aguce nossos sentidos, não entendemos sobre o lugar e nem sabemos qual caminho trilharemos. Além dos visuais deslumbrantes captados pela direção de Jonas Bak, filho de Anke Bak, nossa protagonista, todo o ambiente diante das lentes é uma incógnita, nem sempre é possível descascá-lo para uma melhor interpretação. Essa ambiguidade pode funcionar como combustível narrativo em alguns momentos, mas em outros ela soa como deslizes de criatividade e abstinência de um texto melhor aprofundado, que se mostra bastante capaz em sua maioria. A construção cinematográfica inicial que trazia semelhanças a documentários agora se mostra o oposto do formato, trazendo poucos diálogos, sem um caminho exato a seguir.
Em algumas sequências, acompanhamos conversas interessantes entre a protagonista e os personagens, que são incluídos no enredo de forma esporádica. A eficácia desses momentos de interação ajudam a selar a conexão entre o público e a obra, fazendo falta quando não estão em tela. Em um momento específico onde a protagonista conversa com uma colega de quarto, enxergamos sinceridade nas palavras trocadas ali. É quase como se estivéssemos juntos das personagens, ouvindo um pouco da história e dos propósitos de cada uma, enriquecendo a experiência de uma maneira ainda mais eficiente que em longos momentos de uma bela fotografia. Quando eles acabam, o que vem a seguir não é ruim, mas não é tão recompensador como os destrinches de personalidade propostos anteriormente. Conhecer um pouco deles e assim conhecer um pouco mais da protagonista é a maior qualidade da obra, mesmo que ela opte por meios alternativos para prosseguir a narrativa.
Quando colocamos as cartas à mesa, a conclusão final é que “Madeira e Água” erra enquanto acerta. Toda a sua proposta é positiva, contudo, o acréscimo de diálogos favoreceria ainda mais o material final. Quando não estamos diante de diálogos hipnotizantes, temos imagens deslumbrantes e momentos íntimos, captados por um olhar intensamente particular, que acabam somando positivamente ao conjunto da obra. O que mais pode incomodar é a capacidade de ser algo maior do que é, mesmo que o conteúdo entregue seja satisfatório.