A comunidade online ficou completamente surpresa quando o tão aguardado trailer da adaptação cinematográfica do multimusical “Cats” foi finalmente divulgado em julho de 2019. No entanto, esse momento marcante acabou sendo apenas o início da queda do diretor Tom Hooper, conhecido por seu trabalho em “O Discurso do Rei” e da adaptação musical de “Os Miseráveis”. Apesar de contar com um elenco de estrelas, o lançamento do filme foi recebido com duras críticas, sendo considerado um dos maiores fracassos da história do cinema devido a efeitos especiais em nível amador. Tanto os críticos especializados quanto o público em geral expressaram abertamente seu descontentamento com o resultado final. Em meio a avaliações negativas, houve espaço para humor, com um crítico em questão descrevendo sarcasticamente que ” ‘Cats’ é a pior coisa que aconteceu para gatos desde cães”.
O famoso musical interativo de Andrew Lloyd Webber, baseado nos poemas do britânico T.S. Eliot, narra a história de uma tribo de gatos que se reúnem em torno de seu líder para decidir qual felino será escolhido para viver uma nova vida. Desprovido de um enredo convencional, o musical conquistou o público com seus efeitos práticos, maquiagem impressionante, trilha sonora envolvente e interação única com a plateia. Desde a década de 90, especula-se sobre uma possível adaptação cinematográfica, inicialmente concebida como uma animação dirigida por Steven Spielberg sob o selo de sua produtora, Amblimation. Contudo, o projeto nunca se concretizou, e os direitos de adaptação acabaram sendo adquiridos pela Universal.
Todas as escolhas feitas por Tom Hooper, um diretor presunçoso, acabaram se revelando desastrosas tanto para o filme quanto para sua própria carreira. Desde um roteiro medíocre até a controversa decisão de empregar a captura de movimentos em conjunto com uma tecnologia experimental para criar pelos, Hooper demonstrou ter pouco domínio e cuidado com o material original. O resultado foi um filme carente de escala e coesão, sem um foco claro.
O elenco do filme é composto por renomados nomes de Hollywood e do teatro, como Idris Elba, Ian McKellen, Judi Dench, entre outros. Apesar da notável competência desses artistas, fica evidente que muitos deles estão desconfortáveis em seus “figurinos”, dando o seu melhor mesmo diante das adversidades. Muitos parecem cientes de que fazem parte de um projeto que está destinado ao fracasso. Esse sentimento não se restringe apenas aos membros famosos e premiados do elenco principal, mas também aos figurantes sem nome, que se encontram em situações desconcertantes, como contorcer-se de maneira erótica sob torneiras de leite ou servir de molde para baratas dançarinas, como vimos em cenas protagonizadas por Rebel Wilson.
Os números musicais e canções, muitas mais faladas que cantadas, apresentam performances que deixam a desejar, com cenas desconfortáveis de assistir e uma falta evidente de construção e cuidado prévio. Tom Hooper optou por replicar a tática usada em sua versão de “Os Miseráveis”, com todas as canções sendo gravadas em sets. Uma exceção notável é a performance de Jennifer Hudson como Grizabella, mesmo sob a computação gráfica sem renderizar. A vencedora do Oscar por “Dreamgirls” entrega uma das melhores interpretações de “Memory”, destacando-se em meio às muitas falhas do filme.
A breve participação de Taylor Swift no filme é responsável por um dos raros momentos genuinamente bons, especialmente com sua enérgica performance em “Macavity”, que se destaca como um dos melhores números musicais da obra, junto da canção emocionante de Jennifer Hudson, que encerra o filme. A atual artista mais influente da indústria musical colaborou com Andrew Lloyd Webber para criar a inédita “Beautiful Ghosts”, que, embora mantenha o estilo melancólico característico de Swift, apresenta uma sonoridade um tanto distinta das baladas tradicionais do musical.
O filme está longe de ser considerado bom, mas com a audiência certa, poderia se tornar uma experiência interessante. Assim como ocorreu com musicais de qualidade duvidosa, como “Rocky Horror Picture Show” e muitos filmes na filmografia de John Walters, é possível que, ao longo das décadas, o longa se torne um “clássico da meia noite”. Apesar de terem se passado cinco anos desde o lançamento deste fracasso nas telonas, suas repercussões continuam presentes no mundo do cinema musical atual: estúdios tornaram-se mais cautelosos em relação a lançamentos musicais, e muitos optam por omitir qualquer traço desse gênero em suas estratégias de marketing para futuros lançamentos.