A invasão do Iraque pelo governo de George W. Bush foi uma decisão controversa que até hoje repercute em círculos políticos. Declaradamente pacifista, o diretor japonês Hayao Miyazaki, premiado com o Oscar, posicionou-se abertamente contra o conflito. Inspirado por essa oposição, criou uma nova história, embora desejasse que ela não obtivesse sucesso nos Estados Unidos. O filme em questão é o aclamado clássico O Castelo Animado.
Ambientado em um mundo encantado, a trama acompanha uma iminente guerra entre dois reinos. Alheia a esse cenário, uma jovem chapeleira chamada Sophie é amaldiçoada por uma bruxa, assumindo a aparência de uma idosa. Determinada a quebrar a maldição, Sophie embarca em uma jornada pelos campos verdes e montanhas íngremes até encontrar o misterioso feiticeiro Howl e seu enigmático castelo ambulante. Durante a jornada, ela descobre os segredos que cercam ambos e recebe a ajuda de figuras exóticas e peculiares.
Produzido por Miyazaki, o filme é visualmente deslumbrante e aproveita ao máximo os recursos da animação tradicional. Detalhes como o vento que percorre os campos, o design único da ambígua Bruxa do Deserto e a dimensão do castelo ambulante são exemplos do cuidado artístico que dificilmente seriam replicados com o uso de animação em CGI. O design dos personagens, que mudam de tamanho e aparência, é amplificado pela fluidez característica da animação de Miyazaki.
O tema da guerra no filme explora a futilidade dos conflitos, mostrando suas consequências devastadoras para os civis. Howl, amaldiçoado, utiliza seus poderes para tentar enfraquecer o poderio militar de ambos os lados. As forças armadas, com um design que remete à estética retrô da Segunda Guerra Mundial, criam uma atmosfera atemporal que se distancia das associações diretas com a Guerra do Iraque, reforçando a oposição de Miyazaki à modernidade e ao belicismo.
Outro aspecto central do filme é a compaixão e o respeito pelos idosos. Apesar de ter a aparência de uma idosa, Sophie mantém sua visão otimista do mundo. Sua maldição só é quebrada quando seus atributos internos — como desejos e confiança — permitem que ela estabeleça conexões genuínas com os outros personagens. Essa transformação é evidenciada em momentos decisivos, como o confronto com Suliman e a declaração de seus sentimentos por Howl. A relação entre Sophie e a Bruxa do Deserto também destaca o valor das pessoas frequentemente consideradas inválidas pela sociedade.
Embora Miyazaki tenha inicialmente desejado um impacto modesto, O Castelo Animado foi um grande sucesso no Ocidente, tanto em bilheteria quanto em crítica. A construção rica do universo e a animação tradicional destacaram-se em meio ao crescente domínio do CGI. A presença de vozes renomadas na dublagem em inglês, como Christian Bale, Lauren Bacall, Billy Crystal e Emily Mortimer, também contribuiu para atrair um público mais amplo.
Considerado uma das animações mais singulares do Studio Ghibli, O Castelo Animado carrega um peso pessoal significativo para Miyazaki. O filme encanta jovens e impressiona adultos, seja por sua narrativa cativante ou por sua qualidade artística impecável.