Em 2013, o mundo foi apresentado a um novo papa: Francisco, escolhido após a renúncia histórica de Bento XVI. Argentino e jesuíta, o novo pontífice tinha a difícil missão de unir uma Igreja dividida por escândalos sexuais e corrupção. Francisco foi um pontífice não convencional, defendendo temas que seus antecessores evitavam e sendo visto por muitos fiéis como mais humano do que divino.

Hoje, o trono se encontra vazio novamente e, em breve, o Colégio de Cardeais se reunirá para escolher o sucessor de Francisco.

O conclave – não o filme, pois dele falaremos adiante – é realizado na Capela Sistina, com a participação de cardeais com menos de 80 anos. A eleição ocorre por votação secreta, e o candidato precisa obter dois terços dos votos. Se ninguém for eleito, novas votações são realizadas. A decisão é anunciada por meio da fumaça: preta, caso não haja escolha, e branca, quando um novo papa é eleito. Após aceitar o cargo, o novo pontífice é apresentado ao público na Praça de São Pedro.

O processo é político e traça o futuro da Igreja Católica, podendo aproximar ou afastar fiéis, dependendo das decisões do novo Santo Padre e de sua relação com o mundo moderno. Os muitos mistérios envolvendo o conclave e os bastidores do papado tornam o dia a dia do líder máximo da fé católica um tema interessante para o cinema. Entre os filmes que abordam essa temática, destacam-se “Dois Papas” e o sucesso de Edward Berger, “Conclave”.

Dois Papas

Dirigido por Fernando Meirelles, “Dois Papas” se passa cerca de um ano antes do início do papado de Francisco. Disposto a renunciar, o arcebispo Jorge Bergoglio se encontra com Bento XVI, que também cogita abdicar de sua posição. Com visões de mundo opostas e experiências distintas, ambos compartilham seus conflitos pessoais com a fé e com Deus. Eventualmente, Bento abdica, e Francisco ascende, prometendo mudança.

Com grandes atuações de Jonathan Pryce e Anthony Hopkins, e com sua parcela de liberdades artísticas, o filme provoca reflexões sobre a existência da Igreja em um mundo moderno e suas contradições. A ironia de um papa – supostamente a representação de Deus entre os homens – questionar o silêncio e o vazio em suas orações traz humanidade e vulnerabilidade para um pontífice inicialmente impopular.

O filme também aborda a maneira como, em certos momentos da história, a Igreja Católica se posicionou de forma controversa. Quando os militares tomaram o poder e removeram Isabelita Perón da presidência, Francisco se aproximou dos ditadores e – mesmo que indiretamente – foi responsabilizado pela prisão, tortura e morte de amigos. Embora o pontífice mantivesse sigilo sobre essa parte de seu passado, esse não foi o primeiro caso de representantes da Igreja aliados a períodos sombrios da história da humanidade.

Conclave

Enquanto “Dois Papas” é um filme biográfico, o premiado “Conclave” é baseado no best-seller de Robert Harris.

Após a morte repentina do papa, o cardeal Lawrence se torna responsável pela organização do novo conclave. O processo logo se transforma em um campo de batalha, com cardeais sedentos por poder disputando o trono de São Pedro, divididos entre liberais e conservadores inflexíveis. Os corredores da Capela Sistina se tornam um sufocante labirinto, onde o futuro da Igreja Católica parece incerto.

Apesar de ser uma obra de ficção, “Conclave” retrata a escolha de um novo pontífice como um ato de guerra ou resistência. A iminente eleição do cardeal Tedesco destaca um homem de fé tradicionalista, que busca reverter mudanças significativas promovidas pelo Vaticano II, enquanto a ala liberal, temerosa de desagradar os fiéis mais conservadores, hesita em promover verdadeiras transformações. Assim como Francisco ao assumir o papado, são muitas vezes aqueles mais humildes e menos interessados no poder que acabam se tornando os mais aptos a carregá-lo.

Embora seja uma obra fictícia, “Conclave” representa bem o que pode acontecer nos próximos dias. Muitos dos cardeais favoritos para suceder Francisco são contrários às visões do argentino, enquanto uma minoria forte promete dar continuidade ao seu legado. O papado de Francisco simbolizou uma divisão entre o antigo e o moderno, trazendo um reinado mais humano que o de seu antecessor e promovendo a reconexão de muitos com a fé.

A morte do Papa Francisco simboliza o provável fim de uma breve era da Igreja Católica, mas uma que promete ser explorada com afinco pela indústria do entretenimento, com filmes procurando recontar a vida e morte de Bergollio,

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